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POVO BELO

(Pessoas que fazem a beleza da Região Metropolitana de Campinas e bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí)

SEMEADORES DE FLORESTAS



A consciência ambiental em Campinas e região, forjada em anos de tragédias ecológicas e alimentada pelo esforço de especialistas em vários ramos do conhecimento, é fruto de gestos de pessoas como Paulo Nogueira Neto, que durante anos, em pleno regime militar, dirigiu o principal órgão em Meio Ambiente ou de cidadãos comuns, como jovens que se amarram a árvores condenadas ao machado. São pessoas como essas que, com suas atitudes, servem de exemplo para as novas gerações, na busca de uma cidade e de uma sociedade saudáveis e em equilíbrio com o meio ambiente.
Quatro pessoas, em especial, têm um papel central na formação e consolidação de uma consciência ambientalista e preservacionista em Campinas e região. As quatro, atuantes na área da vegetação e da biodiversidade, confirmando a estreita vinculação entre a história ambiental da cidade e a história da destruição de sua flora. A primeira é Jandyra Pamplona de Oliveira, que doou a Mata de Santa Genebra para o Município, em 1986, e já falecida. Os outros são o botânico Hermógenes de Freitas Letão Filho, o agrônomo Hermes Moreira de Souza e o fazendeiro Wolfgang Schmidt.
Hermógenes de Freitas Leitão Filho – Nascido em 1944, e formado em 1966 pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), de Piracicaba, o professor Hermógenes, como ficou conhecido, fez doutorado em Botânica e vinculou-se em 1974 ao corpo docente da Unicamp. Na Universidade, chefiou o Departamento de Botânica e idealizou o Parque Ecológico e o Jardim Botânico.
Em sua carreira, o professor Hermógenes formou várias gerações de botânicos, e produziu livros e artigos, no Brasil e no Exterior, sobre vários aspectos da flora nacional. Sua maior paixão eram as matas nativas da região de Campinas, que freqüentava com assiduidade, para pesquisas próprias ou como orientador de estudantes. Em uma dessas visitas, a 23 de fevereiro de 1996, o professor morreu de infarto fulminante de miocárdio.
O grande botânico estava empenhado em vários projetos, no momento de sua morte. Um deles era o levantamento de toda a flora paulista, no chamado Projeto Biota, trabalho que reúne as Universidades públicas, Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e outros órgãos de pesquisa. Pouco antes de morrer, o professor Hermógenes coordenou a publicação da mais completa obra já editada sobre a Mata de Santa Genebra, maior área de mata nativa remanescente em Campinas. É o “Ecologia e Preservação de uma Floresta Tropical Urbana – Reserva de Santa Genebra”, lançado em janeiro de 1996, um mês antes da morte na mata.
Hermes Moreira de Souza – Durante muitos anos vinculado ao IAC, Hermes Moreira de Souza ficou conhecido como aquela pessoa que “plantou uma mata”. Em uma área de 7 hectares, da Fazenda Santa Elisa, pertencente ao IAC, Hermes promoveu durante 30 anos o plantio de 3.500 espécies de árvores e 400 de palmeiras. São espécies nativas e exóticas, de toda parte do mundo.
Na Mata do Monjolinho, constantemente ameaçada pelas queimadas, sobretudo durante os períodos de estiagem no Inverno, Hermes plantou, entre outros, exemplares de embaúva (Bolívia), flor-da-neve (Andes) ou das matas nativas brasileiras araçapiranga (Litoral paulista) e jangada (Mato Grosso).
Wolfgang Schmidt – Nascido em 1905, em Berlim, Wolfgang Schmidt comprou em 1942 a Fazenda Santa Mônica, no Distrito de Joaquim Egídio, em Campinas, para mudou com a mulher, Anésia. Desde então o casal desenvolveu na Fazenda um trabalho pioneiro de reflorestamento misto, resultando em um arboreto com 120 espécies de árvores, basicamente nativas.
O trabalho de Schmidt foi reconhecido a nível internacional. Em 1992, recebeu o Prêmio Global 500, concedido pelo Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas (Pnuma). É o mais importante prêmio ambiental no planeta. No Brasil, receberam o Global 500, entre outros, o seringueiro Chico Mendes, o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, o índio Davi Yanomami. O nome foi concedido em nome de Anésia. “Eu nunca teria feito o que fiz sem a ajuda de minha mulher”, resumiu Wolfgang, na época da homenagem. Ele faleceu em 2006, aos 100 anos. Um tributo à vida plena. (Texto publicado originalmente em Via Biosfera, em 2001).

NOVA BIBLIOTECA MUNICIPAL DE ITAMOGI FAZ
HOMENAGEM A PROFESSORA QUE DEU LIÇÃO DE VIDA

Por José Pedro Martins,
texto e fotos


Professora Tianinha, homenageada pela
 nova Biblioteca Municipal de Itamogi



      O diploma de conclusão do ensino primário, datado de 30 de novembro de 1947, informa que a aluna Sebastiana Bernardino da Costa, filha de Sebastião Bernardino da Costa, concluiu o curso, tendo sido aprovada nos exames finais do quarto ano com média 10. O diploma é assinado pela aluna, pelo inspetor João Domingos, pela diretor Araci Serafina dos Anjos Lúcio e pela professora, Aparecida Soares de Araújo.
      Pois essa aluna se transformaria poucos anos depois em uma grande professora. E é ela, Sebastiana Bernardino da Costa Elias, quem dá nome à nova Biblioteca Pública Municipal de Itamogi, a ser inaugurada hoje, 29 de abril de 2011, a partir das 19 horas, em cerimônia presidida pelo prefeito municipal, Janoário Arantes.
Placa de inauguração do prédio onde funcionou a
Prefeitura de Itamogi, agora Biblioteca



Sala de leitura da nova Bilbioteca

      A nova Biblioteca Pública foi instalada no antigo prédio da Prefeitura Municipal, inaugurado a 7 de setembro de 1954, na gestão do prefeito Ramon Sanches. Durante mais de cinco décadas o prédio, no coração da cidade, foi sede do Poder Executivo, e agora abriga o novo espaço do saber na cidade. A outra biblioteca municipal, "Maria Guerra", foi instalada na Escola "Mailon Furtado de Medeiros".
      Duas salas da nova Biblioteca Pública foram reservadas ao amplo acervo de livros, revistas, CDs, DVDs e outros recursos. Na sala de leitura, o aviso de "Silêncio" é explícito: ali é lugar de concentração, de imersão no maravilhoso mundo da literatura. Outra sala recebeu o Arquivo Público Municipal. E um destaques da Biblioteca é a brinquedoteca, equipada com mesas e cadeiras propícias para crianças e recursos audiovisuais de última geração para exibição de filmes. 



Brinquedoteca, local para as crianças viajarem pela leitura e pela imagem 


Arquivo Público Municipal foi instalado no mesmo prédio

     Um novo território do ensino e do aprendizado, uma porta aberta para novos horizontes culturais, em localização privilegiada, no centro, bem ao lado da praça São João Batista. "Um grande avanço cultural para Itamogi", comemora a bibliotecária, Lúcia Helena Santanelli. "Mais um importante passo para a melhoria da educação", complementa dona Dirce de Brito, supervisora da Biblioteca e ela mesma professora por muitos anos, e contemporânea da homenageada, Sebastiana Bernardino da Costa Elias, a "Tianinha", como é carinhosamente conhecida.
     Sorriso marcante, alegria contagiante. Uma das marcas da professora "Tianinha", que deu aulas e por muitos anos foi diretora da Escola Mailon Furtado de Medeiros, no bairro Cerrado. Foi responsável pela introdução da merenda escolar e pela construção do prédio em alvenaria.  Ela foi casada com Nabi Elias, com quem teve três filhos: Nádia, Inara e Cléber. Foi uma grande professora, com biografia totalmente identificada com a educação. Mas sobretudo foi uma mulher que deu lição de vida.     
       

Casa da família Bernardino da Costa, onde a professora Tianinha viveu a infância e juventude



Sorriso marcante, entregando um diploma: a educação como amor

DE PARAÍSO, O SOM QUE
       CHEGA AO PLANETA

Calimerio Soares na Universidade de Leeds, Inglaterra, onde fez o
doutorado em música. (Foto Arquivo Pessoal Calimerio Soares)

      No último dia 17 de setembro, os felizardos que puderam ir à Sala Thomas Jefferson, em Brasília, assistir ao concerto do duo pianístico Celina Szrvinsk e Miguel Rosselini, puderam ouvir, em primeiríssima mão, a obra "Frevo", que fazia sua estréia mundial. "Frevo" é uma composição de Calimerio Soares, músico reconhecido internacionalmente e que nasceu em São Sebastião do Paraíso, em 1944. Há muitos anos vivendo em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, se dedica hoje a uma intensa pesquisa e composição musical, além da redação de artigos para várias publicações especializadas em música erudita, no Brasil e exterior. E acompanha de perto as execuções de suas peças, que se sucedem em escala crescente, em sintonia com o ótimo momento vivido pela música erudita no país, mesmo que esse ramo musical não tenha a devida divulgação pelos grandes meios de comunicação de massa.
     Apenas entre agosto e setembro deste ano, composições de Calimerio Soares foram executadas em diferentes concertos. A 7 de agosto, a "Toccata Longa", para órgão, foi apresentada na Igreja Luterana Martin Luther King, no Rio de Janeiro, por Vytenis Vasyliunas, renomado organista lituano que excursionou pelo Brasil. No dia 14 de setembro, duas peças de Calimerio foram apresentadas na Sala Camargo Guarnieri, do Departamento de Música e Artes Cênicas da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).
      A flautista Paula Callegari apresentou "Prelúdio&Allegro" e a mesma Paula, junto a Angélica Medeiros e Janaína Nóbrega, apresentaram "Três Miniaturas", composta para trio de flautas doces. Momento especial para Calimeiro Soares, que justamente na Universidade Federal de Uberlândia lecionou durante anos, tendo sido um dos grandes responsáveis pela consolidação do Departamento de Música e Artes Cênicas da UFU como uma referência nacional e internacional.
Da infância no Paraíso à música - Filho de José de Moura Soares e Sofia Soriano Soares, com outros cinco irmãos, Calimerio Soares não se esquece dos anos tranquilos da infância, e muito menos da sua primeira professora, Dona Abigail Nogueira, do Grupo Escolar Campos do Amaral. Não teve grandes influências musicais na família, embora tivesse um tio-avô músico. Era o coronel da Guarda Nacional José Cândido Pinto Ribeiro, que hoje dá nome a uma escola em Paraíso.
      Mas a vocação para a música não demorou a eclodir, e depois dos estudos em Paraíso ingressou no Conservatório Musical de Ribeirão Preto, formando-se em 1968. No ano seguinte já estava no Triângulo Mineiro, no Conservatório Estadual de Ituiutaba, e depois na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), onde graduou-se em piano e licenciou-se em música. Logo estava dando aulas no Departamento de Música e Artes Cênicas.     
      A UFU tinha acabado de ser fundada. Ela nasceu em 1969, e a Faculdade de Música de Uberlândia, dirigida por Cora Pavan Capparelli, tinha sido uma das fundadoras, ao lado de outras faculdades que existiam na cidade. Calimerio Soares deu aulas na UFU até 2001. Nesse período, sua carreira foi ascendente.
     Entre 1992 e 1996 fez o Doutorado na Universidade de Leeds, na Inglaterra, uma referência musical na Europa. O orientador de sua tese foi o dr. Philip Wilby, um dos mais importantes compositores e professores em seu país. Violinista, Wilby tem composto várias obras para a BBC, entre outras peças.  Na sua tese, Calimerio detalhou o processo criativo que levou à composição de várias obras durante o seu dourorado, incluindo uma ópera infantil, baseda em "O Menino Maluquinho", de Ziraldo.
    Calimerio ainda estudou, no Brasil, cravo com Helena Jank, música contemporânea com Paulo Affonso de Moura Ferreira e composição musical com Estércio Marquez Cunha. E especializou-se em órgão nos Estados Unidos,c om Mallory Bransford e em cravo no País de Gales, com Andrew Wilson-Dickson. 
   

Calimerio Soares, a voz de São Sebastião do Paraíso
para a música do mundo (Foto Arquivo Pessoal Calimerio Soares) 
Influências eternas Sólida e múltipla formação musical, portanto. Não se esquece, nunca, de comentar a influência enorme que recebeu de um de seus professores, nada menos que Mozart Camargo Guarnieri (1907-1993), o paulista de Tietê que hoje é um nome internacional, ao lado de Villa-Lobos.
     Bach e Beethoven, sempre, importantes referências para Calimeiro, que é grande apreciador, ainda, da música barroca. Calimerio se entusiasma com o momento vivido pela música erudita no país, tendo sido ele um dos nomes responsáveis pelo seu fortalecimento nas últimasa décadas. Ele cita o próprio caso de Uberlândia, onde os concertos passaram a atrair número cada vez maior de pessoas, em espaços como a Sala Camargo Guarnieri e o Teatro Rondon Pacheco.
     Muitas barreiras e dificuldades ao longo do tempo, com certeza, mas sobretudo a alegria com as vitórias. "Nem tudo foi riso e flores na cabana dos lenhadores", comenta. Entretanto, o resultado está aí. Um profissionalismo cada vez maior, diversos cursos de música, publicações especializadas e concertos concorridos são a nova face da música erudita, orgulha-se o compositor que saiu do Paraíso para ajudar a escrever a música do mundo.   
     Suas composições participaram, por exemplo, do World Music Days/ISCM (Moldávia, 1994), do IV Encontro de Compositores e Intérpretes Latino Americanos (Belo Horizonte, 2002), das edições de 2007 e 2009 do Festival Anual de Nova Música de Órgão em Londres, Inglaterra, e de várias edições da Bienal de Música Brasileira Contemporânea, do Rio de Janeiro, entre 1997 e 2009. Mais uma brilhante voz da bela região. (Por José Pedro S.Martins)   
                    
      
DE ITAMOGI, O PADRE QUE CONSTRÓI IGREJAS


Padre Levi e D.Benedito de Ulhoa Vieira,
arcebispo emérito de Uberaba, que o ordenou em 1987
(Arquivo pessoal padre Levi)


     O dia 12 de setembro de 2006 foi muito especial para o padre Levi Fidélis Marques. Nessa data ele recebeu, na histórica cidade de Diamantina, em cerimônia presidida pelo governador Aécio Neves, a Medalha JK, uma das mais altas condecorações do governo mineiro. Esta foi, entretanto, apenas mais uma homenagem recebida pelo padre Levi, que nem imaginava o rumo de sua vida quando ainda brincava, criança, pelas ruas de Itamogi, onde nasceu, em 1960.
     Infância normal e rica, ao lado dos amigos e dos pais, Manoel Fidélis Marques Filho e Alice Maria Dias Fidélis. Lembrança especial dos primeiros professores, como a Dona Nabirra Elias, de Português, no Grupo Escolar Minas Gerais. A Dona Nabirra que era um dínamo, energia impressionante, uma grande agitadora cultural em Itamogi e que sempre falava aos alunos, que nunca esqueceram o conselho:
__ Livro é para escrever, não é só para ler.
    Ela se referia às observações que, a lápis ou a caneta, o leitor deveria ir registrando, nas páginas que ia lendo, no livro de histórias ou didático. Uma forma de guardar o que se ia aprendendo e de exercitar a inteligência, o espírito crítico. Levi e todos os alunos da Dona Nabirra não se esqueceriam jamais dessa recomendação.
    No Ginásio, aulas de Geografia com a professora Lourdes Guerra, de Matemática com o professor João Batista Guerra e, entre outras, de Educação Física, com o professor Airton de Paula e Silva. As aulas do professor Airton na quadra da própria escola ou no campo de futebol do São Cristóvão, durante muito tempo o time do coração dos itamogienses.
     Como muitos de sua idade, Levi se tornou coroinha na Igreja Matriz de Itamogi, que tem São João como padroeiro. Era auxiliar do padre Nelson, muito querido pelo povo local. Ao contrário de outros coroinhas, porém, Levi foi tocado pela vocação do sacerdócio, apesar do que dizia, de brincadeira, Dona Tereza, que era a zeladora da Matriz de São João:
__ Menino, você não vai se tornar padre porque é muito levado!
   E o padre Levi:
__ Vou ser padre, sim, e a senhora irá enfeitar a Igreja para a minha primeira missa!
Estudos e ordenação - Já com a vocação instalada no coração, e com o apoio enorme dos padres Nelson e  Luiz, Levi vai para o seminário de Guaxupé, não muito longe de Itamogi. Em seguida continua os estudos em Poços de Caldas, ainda no Sul de Minas, e depois no seminário redentorista de Aparecida (SP).
     O término da preparação para a vida religiosa acontece no Colégio São José, de Uberaba, onde é ordenado, pelo então arcebispo D.Benedito de Ulhoa Vieira, a  11 de dezembro de 1987. D.Benedito, natural de Mococa (onde nasceu em 1920), também bem perto de Itamogi, se tornaria uma grande referência espiritual para o padre Levi, que passou a atuar em paróquias da arquidiocese de Uberaba. Claro, a primeira missa celebrada por padre Levi, na sua Itamogi de nascimento, foi sim na Matriz de São João, enfeitada pela querida Dona Tereza... 
     A primeira paróquia foi a de Imaculada Conceição, em Conceição das Alagoas, onde fica por nove anos. E na paróquia a descoberta de outra vocação de padre Levi, a de construtor de Igrejas. Foram três Igrejas construídas, tijolo por tijolo, entre as paróquias de Imaculada Conceição e a de Nossa Senhora do Patrocínio do Santíssimo Sacramento, em Sacramento, onde permaneceria por 13 anos.
     Conceição das Alagoas e Sacramento têm uma origem comum, a busca do ouro e diamante. Conceição foi conhecida, inicialmente, como Garimpo das Alagoas. Um diamante enorme, encontrado em 1850, nas proximidades da cachoeira do rio Uberaba, foi o ponto de partida para a povoação. Encerrado o ciclo do garimpo, começa o das olarias.
O tesouro da construção de Igrejas - Padre Levi descobriu de fato um grande tesouro em Conceição das Alagoas, tornada município em 1938 (era distrito de Uberaba). Foi o tesouro da construção de Igrejas, com os tijolos que fizeram a fama de Conceição das Alagoas. Com grande ajuda da comunidade, a construção passo a passo, desde a compra do terreno, planejamento e edificação.
     Após o ciclo das olarias, Conceição das Alagoas passou a vivenciar a pecuária e, mais recentemente, como em grande parte do Triângulo Mineiro, a economia da cana-de-açúcar e da soja. Novos tempos, novos desafios, e padre Levi se transfere para Sacramento, ali perto. Tomou posse a 8 de janeiro de 1996.
      Após também sentir o impacto das atividades de garimpo na região, Sacramento recebeu o impulso do plantio do café no Triângulo Mineiro, sobretudo após a chegada dos trilhos da Companhia Mogiana. Durante muito tempo a cidade foi servida pelos bondes. A antiga estação dos bondes é hoje o Palácio das Artes.
      De novo a construção de Igrejas e capelas em Sacramento, pelo padre Levi, sempre com o suporte fundamental dos paroquianos.
__ A construção de uma Igreja é como o sacerdócio, uma obra ou uma vida a serviço de Deus e do seu povo - ele resume.      
     Uma das atividades de destaque em Sacramento foi a celebração em 2007 do sesquicentenário da paróquia do Santíssimo Sacramento, no mesmo ano em que padre Levi completava 20 anos de sacerdócio. Em Sacramento também atuou na Paróquia do Desterro.
     Para essa festa especial do sesquicentenário, padre Levi providenciou a restauração da imagem de Nossa Senhora do Patrocínio do Santíssimo Sacramento. Restauração pela artista Cristiana Antunes Cavaterra, uma das profissionais mais respeitadas em sua área no país. A imagem barroca foi trazida de Portugal pela família do Cônego Hermógenes, um dos pioneiros de Sacramento.
     Em 2009, padre Levi tomou posse de outra paróquia com rica história, a de Santa Teresinha, em Uberaba. A 31 de maio de 1929 foi inaugurado o Santuário de Santa Teresinha, idealizado pelo bispo Dom Lustosa, da ordem dos salesianos. O santuário foi demolido em 1960, mas desde 1946 funciona a Paróquia de Santa Teresinha, aos cuidados de frades capuchinhos. É hoje uma igreja belíssima, com pedra fundamental de 1949 e erguida em estilo neoromânico.
     É nesta Igreja que tem planta em cruz grega, com nave única, onde provavelmente padre Levi completará 25 anos de sacerdócio em 2012. E nesse dia ele irá se lembrar novamente de suas referências em Itamogi, onde vai sempre visitar os pais e, sem falta, todo ano, participar das Congadas, no final de dezembro. O padre confessa: 
   __ Não fico sem o Congo de jeito nenhum!    
     Entre suas lembranças, a de sua primeira professora, no Grupo Escolar Minas Gerais: Maria das Dores Soares Martins. 
    __ Era baixinha, muito educada, carinhosa igual a mãe da gente. A nossa primeira professora é sempre assim, não?
     O padre construtor de Igrejas tinha se esquecido, por alguns momentos, que estava se referindo à mãe deste jornalista. (Por José Pedro S.Martins)             
                             

BASSANO, TRIBUTO À MULHER

As dignas e belas faces da mulher, na obra de Bassano Vaccarini
(Fotos JPMartins)


      Um arrebatamento. Foi a sensação que tive quando vi pela primeira vez o mosaico que Bassano Vaccarini concebeu para o Mercado Municipal de Ribeirão Preto. O mosaico tão caro ao coração dos italianos, repaginado pela genialidade de Bassano, que acrescentou o condimento da realidade e da cultura brasileira, em que o barroco exerce papel capital. A técnica tipica do mosaico, aliada à diversidade de formas e cores do Brasil, que o barroco começou a espelhar.
      Assim é a sensibilidade do artista, a capacidade de captar os valores mais profundos de um povo, como emblema dos sentimentos mais íntimos da própria humanidade. Assim foi com Bassano Vaccarini, que bebeu das mais puras fontes da arte italiano-européia, em Milão, Monza e em Genebra, depois de sair de sua pequena San Columbrano al Sambro, onde nasceu em 1914, primeiro ano da Grande Guerra, o conflito que lançou nuvens de enorme pessimismo sobre a condição humana.
     Pois a reafirmação da esperança no humano seria uma das mais singelas características do legado do artista, que alcançou seu esplendor ao atravessar o Atlântico e contribuir, como tantos italianos, para a formação cultural do Brasil. Bassano aqui chegou em 1946, membro de grupo de compatriotas que iria participar de uma exposição. 
     Foi paixão à primeira vista e uma impressionante produção, desde a escultura para o altar-mor da Igreja do Brás, em São Paulo. Escultura, pintura, mosaico, teatro, cinema e várias outras técnicas, que dominava com maestria, um típico artista completo, como o foram gigantes como Leonardo e Michelangelo. 



Outra peça do Jardim das Esculturas

     A escultura foi muito praticada em Ribeirão Preto, para onde se transferiu em 1956, e em outras cidades da região, como Batatais e, sobretudo, Altinópolis, onde viveria os últimos anos da vida, até o falecimento em 2002. Pelas mãos de Bassano Vaccarini Altinópolis se tornou um enorme museu a céu aberto, com obras na Praça do Trabalhador, Teatro de Arena, Estação Rodoviária e, entre outros pontos, o magnífico Jardim das Esculturas "Ulysses Guimarães".
     É neste local, no alto de uma colina de onde se vislumbra toda a beleza das serras da região, que o artista deixou um de seus mais expressivos conjuntos. Um tributo à mulher, esculpida em várias de suas situações cotidianas. O trabalho, a maternidade, a beleza, o rompimento das barreiras históricas.
    A expressividade das esculturas reflete o rigor cenográfico que Bassano Vaccarini adquiriu e exibiu nos anos que passou no Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), esse ícone do teatro brasileiro, onde conviveu com "monstros sagrados" como Aldo Calvo, Adolfo Celi, Ziembinski e Luciano Salce. E a maravilhosa Cacilda Becker, com quem trabalhou em "Anjo de Pedra", de Tennesse Williams.
     Várias peças em que Bassano trabalhou no TBC tinham a mulher como tema. Como em Antígona, de Sófocles, talvez o maior texto na história do Teatro em homenagem à mulher. A mulher que enfrenta os poderes constituídos, o aparato militar, para atender a um dos mais nobres sentimentos humanos. A coragem e a força da mulher, refletidas com toda a dignidade nas peças do Jardim das Esculturas.
     Um tributo à mulher, uma reafirmação da crença no humano. É o recado em cimento e encanto de Bassano Vaccarini (Por José Pedro S.Martins) 


     
A mulher que rompe todas barreiras, por Bassano Vaccarini