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segunda-feira, 13 de setembro de 2010

REGIÃO DE CAMPINAS E PIRACICABA, 30 ANOS DE MUDANÇAS RADICAIS

Três décadas de mudanças radicais para a região de Campinas e Piracicaba, região situada nas grandes bacias do rios Piracicaba e Capivari. Este blog, BELA REGIÃO CAMPINAS, tentará comentar o que houve e o que eventualmente é possível esperar dessa região, pela ótica de alguém que acompanhou muitas destas transformações e mudou com elas.
Em 2010 completo 30 anos de jornalismo, e a imensa maioria deles foi vivida na região, primeiro em Piracicaba, depois em Campinas. Em Piracicaba porque estudei e me formei na Unimep, e lá morei e trabalhei, entre 1981 e primeiro semestre de 1986. Trabalhei no jornal "O Diário", dirigido pelo brilhante Cecílio Elias Netto, e também na própria Unimep e colaborei com várias publicações.
Depois de um período morando em São Paulo e Brasília, atuando na Agência Ecumênica de Notícias (AGEN), voltei à região, agora morando em Campinas, a partir de 1990. Trabalhei até 2000 no Correio Popular, com o qual passei a colaborar desde então, com uma coluna semanal aos domingos.
Me dediquei a publicar livros desde 1987, ano de lançamento do meu primeiro título, "Ecologia ou Morte - Os Cristãos e o Meio Ambiente", pela Editora FTD, de São Paulo. A grande maioria desses livros se refere a temas ligados a cidades específicas ou ao conjunto da Região Metropolitana de Campinas e às bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí. Por essa circunstância pude acompanhar muitos fatos de enorme relevância nesses 30 anos. A visão deste blog, então, será a de alguém que dá o seu próprio testemunho sobre o que vivenciou, embora opiniões de outras pessoas, igualmente testemunhas dessas transformações, também devam ser publicadas por aqui. Opiniões que, obviamente, muitas delas serão contrárias ao deste jornalista, e é muito bom e desejável que assim seja.
Transformações que não podem ser ignoradas
Entendo que, dentre as inúmeras mudanças regionais, quatro gigantescas devem ser destacadas. A primeira é o estado das águas da região. Nenhuma cidade ou região tem futuro sem água, em quantidade e qualidade. Isto é um fato ao longo de toda história da humanidade e não seria diferente em um território que, entre o final dos anos 1970 e início dos 1980, tinha uma perspectiva absolutamente negativa em termos de seus recursos hídricos. Aluno na Unimep e escrevendo para jornais em Piracicaba, pude ver como o povo dessa cidade se envolveu de corpo, alma e poesia para salvar o seu rio, o que significaria salvar todos os rios da região.
A retirada de uma fabulosa quantidade de água da bacia do rio Piracicaba, por intermédio do Sistema Cantareira, viabilizou o impressionante crescimento da Grande São Paulo, que se tornou uma das maiores metrópoles globais. Mas essa retirada de água colocou em xeque o futuro de toda bacia do Piracicaba, as cidades de Campinas e Piracicaba incluídas.
Além disso, os rios da região sofriam com uma poluição desenfreada. Menos de 5% dos esgotos urbanos, por exemplo, eram tratados naquele momento. Pois esse quadro mudou, se não totalmente, ao menos consideravelmente nas últimas três décadas. A região passou a ter voz na decisão sobre as águas do Sistema Cantareira e, em especial, avançou muito o controle da poluição dos rios, primeiro pelas empresas (setor sucroalcooleiro e indústrias em geral), e depois pelos municípios.
A criação do Consórcio das Bacias dos rios Piracicaba e Capivari, em 1989 (depois passando a incorporar a bacia do rio Jundiaí), a legislação estadual e brasileira de recursos hídricos (levando à criação dos Comitês e Agência de Bacias e instituição da cobrança pelo uso da água) e as ações individuais de alguns municípios foram essenciais para mudar o estado atual das águas na região. Cerca de 50% dos esgotos urbanos já são tratados, com destaque para Campinas, maior município da região, que chega em 2011 com a capacidade de tratar 100%.
O papel reconhece o que as ruas já sabiam
Outra grande transformação foi a criação da Região Metropolitana de Campinas (RMC), em 2000, pela Lei Complementar Estadual 870. A idéia de uma região metropolitana em torno de Campinas era antiga, tendo sido cogitada já no período militar, mas os prefeitos da região e outras lideranças, sabiamente, manifestaram resistências, temendo a centralização do poder nas mãos dos governos estadual e federal que, como se sabe, eram comandados pelas mesmas mãos.
Mas após o fim da ditadura a idéia voltou a ser discutida. Em 26 de junho de 1993, fui autor de uma reportagem no Correio Popular, intitulada "Fórum regional debaterá processo de metropolização". Era um sinal do movimento que tomava corpo. Mas o processo ainda se prolongou, até a decisão de 2000, depois de muita polêmica e um sem número de reuniões e mais reuniões e idas e vindas e "inções e vinções" como gosta de brincar um colega.
Com a RMC, a região de 19 municípios (incluindo alguns dos mais populosos da bacia do rio Piracicaba) passou a ter nova ferramenta para planejar o seu futuro. Um planejamento com olhar de fato regional, o que sem dúvida não ocorreria sem traumas, considerando a história política brasileira do município olhar para dentro de si mesmo, e não para o além-fronteiras.
Na prática, a criação da RMC era, entretanto, apenas um ato legal, pois a conurbação já existia e muitas cidades estavam coladinhas uma na outra. Mas faltava a decisão política, o que não ocorreu sem uma galeria de controvérsias.
A economia do conhecimento chega ao poder
Uma terceira e profunda transformação, ocorrida nos últimos 30 anos na região, acompanhou a metamorfose verificada no planeta como um todo, resultante da importância cada vez maior da chamada economia do conhecimento. Se no comecinho dos 80 a informática não era nem um centésimo do que é hoje, e o Brasil ainda sofria com os impactos da reserva de mercado, a região de Campinas-Piracicaba era uma das áreas no Brasil que mais se demonstrava preparada para o que viria a seguir.
Com seguidos e muito rápidos avanços na Ciência e Tecnologia, a economia do conhecimento foi levada ao céu nas últimas três décadas, em todo planeta. Como a região de Piracicaba-Campinas já tinha importantíssimos centros científicos e tecnológicas, ela naturalmente se beneficiou dessa extrema valorização e evolução da economia do conhecimento. E nos últimos anos outros centros de pesquisa e desenvolvimento foram implantados na região, ampliando o seu potencial competitivo.
Duas "Campinas" inteiras construídas na região
Nos últimos 30 anos a população das bacias dos rios Piracicaba e Capivari aumentou em mais de 2 milhões de moradores. É como se duas "Campinas" inteiras tivessem sido construídas na região no período. Seria impossível que um incremento demográfico desses não tivesse algum efeito, no meio ambiente, na qualidade dos serviços públicos, no déficit habitacional, entre outros impactos.
Pois agora, final de 2010, a região tem um grande desafio pela frente. As projeções são de um crescimento da economia e da população regional ainda maior nos próximos anos.
Perguntas que não se desmancham no ar
Ficam, diante desse quadro, algumas perguntas no ar: (1) Como os avanços no saneamento básico e outras medidas na área ambiental contribuirão para a sustentabilidade do crescimento econômico e demográfico regional? (2) Como o pólo regional de ciência e tecnologia irá colaborar com esse crescimento, por exemplo em termos de geração de novos e necessários empregos e com novas formas de viver em cidades cada vez mais saturadas? (3) Como a estrutura da Região Metropolitana de Campinas (RMC) dará resposta à complexidade desse projetado novo crescimento econômico e populacional?
Perguntas que deverão ser respondidas pelo conjunto da região. Neste blog, repito, comentários sobre o que este jornalista pôde acompanhar nos últimos 30 anos. Um olhar sobre o que vivemos talvez ajude a entender o que estamos vivendo e o que nos espera, se é que dá para fazer alguma projeção nesse mundo cada vez mais dinâmico e incerto e sujeito, literalmente, a chuvas, trovoadas ou secas cada vez mais intensas.
Bem vindos, voltem sempre ao Bela Região Campinas. (Por José Pedro S.Martins)

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