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quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Congadas de Itamogi, Paraíso e região têm raízes negras e europeias

 
Congadas em Itamogi, Minas Gerais: hierarquias se desfazem como pó


Tchi, tchi, tchi, tchi, bum, tchi, tchi, tchi, tchi, bum. O som da caixa é inconfundível e serve de senha. O terno de congo está chegando com sua miscelânea de cores, sons e ritmos, mesclando os valores culturais e religiosos vindos da mãe África, a bordo dos tristes navios negreiros, com os valores católicos trazidos pelos portugueses.  Uma das mais importantes manifestações que contribuíram para firmar a mestiça identidade nacional, embora não tão valorizada e lembrada como o samba ou a capoeira, as congadas estão esparramadas por todo o Brasil,  acontecendo, aqui e ali, em determinada  época do ano e celebrada com características próprias, dependendo das peculairidades regionais que adquiriram.
As origens das congadas são matéria de controvérsia entre pesquisadores. Uma corrente identifica sua fonte em uma tradição africana, em torno da coroação dos reis do Congo, embora outroas vertentes acreditem que a matriz esteja em Angola. De qualquer modo, a tradição, de tão forte, atravessou o Atlântico e se instalou no coração das senzalas, dos quilombos e de outras comunidades negras no período colonial. Em terras brasileiras, seria uma forma de os escravos reafirmaram suas origens, sua identidade, sua fidelidade aos antepassados.
Como ocorreu com outras expressões culturais e religiosas, as Congadas evoluíram em função do sincretismo que proliferou no período colonial e monárquico. Às raízes africanas foram somadas  as influências católicas europeias e as congadas passaram a se tornar momentos de homenagem a santos de grande simpatia e empatia populares, como Nossa Senhora do Rosário e São Benedito.
Depois vieram os cultos, durante as congadas, a outros santos queridos, como Santa Ifigênia, Santa Catarina, São Jerônimo e São Domingos. Ecos de tradições europeias também são ouvidos em algumas sonoridades e no enredo das Congadas, que teriam incorporado situações ligadas aos reis Fernando e Isabel, da Espanha,  e/ou de Carlos Magno e os 12 pares da França, ou mesmo as cruzadas contra os mouros na Península Ibérica. De fato, existem traços de combates simulados em algumas modalidades de Congadas, em referência às fontes africanas ou europeias.
Sons fortes, batidas pesadas, marcam o compasso dos ternos, os grupos que se reúnem para desenvolver as Congadas. São os sons vindos dos pandeiros, cuícas, reco-recos e, sobretudo, das caixas de congo, espécie de tambores que geralmente vão à frente dos ternos. Impossível não se contagiar com os batuques que evocam o imaginário mestiço, plurirracial, que moldou a alma brasileira. Mas instrumentos de corda também estão presentes, compondo uma sinfonia de sons e ritmos que convida para a dança, inclusive em algumas festas do Divino, nas quais estão presentes modalidades de Congadas.
Em todos os pontos do Brasil, onde as Congadas continuam firmes, resistindo à massificação cultural,  as festividades cumprem papel semelhante ao do Carrnaval. São momentos de celebração da liberdade e da vida, como ocorria nos eventos originais - os senhores de engenho davam "permissão" para os escravos celebrarem o cortejo dos reis congos durante um dia específico. Era, óbvio, uma data muito esperada e comemorada. As celebrações também dependiam, no caso de ocorrerem  em espaços urbanos, da autorização das autoridades policiais.
As Congadas contemporâneas mantêm, em linhas gerais, o enredo das fontes. Os "congadeiros" cantam as músicas em louvor aos santos, dançam passos com nítida inspiração africana e, em determinadas ocasiões, fazem o transporte dos reis congos, um casal que é escolhido como "majestades" para liderar as festividades. Os reis congos são então acompanhados pelas ruas até sua entrada nas igrejas. Geralmente os reis congos, devidamente vestidos com indumentárias brilhantes, são abrigados sob guarda-chuvas ou outros aparatos protetores. Tudo para salientar a sua realeza. A coroação dos reis congos é momento forte.
Outro momento forte dos cortejos é o das chamadas "embaixadas", que seria uma referência às embaixadas enviadas entre as cortes africanas - embaixadas de paz ou de guerra. Não por acaso, os ternos são geralmente conduzidos sob a batuta de "generais" e "capitães", além, é claro, dos próprios reis congos. Em algumas localidades também acontece o levantamento das bandeiras em homenagem a determinados santos, que se constitui na solenidade que abre oficialmente as congadas daquele ano. Com efeito, as festas das Congadas apenas são encerradas, nesses locais, quando acontece a descida das bandeiras, que ficam instaladas no centro nervoso onde ocorrem as festividades.
Existem Congadas espalhadas por todo o território brasileiro, mas em algumas comunidades elas adquiriram força especial, atraindo a cada ano os moradores locais e também turistas. São os casos de Pirenópolis e Catalão, em Goiás, de Cametá, no Paraná, e de várias cidades mineiras, como Uberlândia, São João del-Rei, Machado, São Sebastião do Paraíso e Itamogi. Desses locais, em especial do sul de Minas, as Congadas foram levadas pelos migrantes mineiros que se estabeleceram nas periferias de grandes cidades, como São Paulo e Campinas. O tradicional Festival do Folclore de Olímpia, no interior paulista, é um momento especial de apresentação de congadas de todo país.
As Congadas incluem, de acordo com a tradição, a apresentação de grupos com funções específicas, como os vilões, os marujos, os catupés, os próprios congos e os moçambiques. Os moçambiques, em particular, seriam os "anjos" que abriam caminho para os acompanhantes dos reis congos. Em algumas regiões, os moçambiques passaram a constituir "ternos", ou grupos próprios, como em São Sebastião do Paraíso e Itamogi, no Sul de Minas. Nesses casos, a indumentária dos "moçambiqueiros" difere dos "congadeiros". Os "moçambiqueiros" são trajados de saias e portam espécies de guizo nos pés, acentuando sua sonoridade própria durante as danças e cantos.
Como em toda grande festa de caráter popular, cultural e religioso, as congadas também são sinônimo de culinária pesada. Em algumas localidades permanece a tradição de oferecimento de farta comida e generosa bebida por parte dos "festeiros", pessoas das comunidades que assumem esse encargo. Em outros locais essa tarefa passou à esfera do poder público, com muita, mas muita comida servida, e de graça, para quem quiser. Em Itamogi, a macarronada com batata é servida com muita generosidade para os "congadeiros", os "moçambiqueiros" e o povo em geral, nos quatro dias da tão esperada festa, que é o emblema da identidade local.
A exemplo de outras legítimas manifestações culturais e religiosas, as Congadas também sofreram mutações inevitáveis em função das mudanças profundas na sociedade brasileira,  como no caso da transição de um mundo essencialmente rural para um universo urbano. Para muitos as raízes estão perdidas no passado, ameaçadas por interesses políticos e econômicos que passaram a envolver muitas das festas da alma brasileira. Mas os sinais originais, os ecos da Mãe África e igualmente das influências europeias, continuam presentes, sempre a encantarem e a seduzirem pelo mosaico de sons, ritmos, cores e sabores que ainda vestem, com realeza e fidalguia, as Congadas, momento mágico em que as hierarquias se desfazem como pó.  (Texto do livro "Imagens do Brasil - A alma plural e única do Brasil", Volume 1, de José Pedro Soares Martins, Editora Komedi, Campinas, 2010)

Região Metropolitana de Campinas sem perspectiva de mapeamento digital, previsto para Aglomerados de Jundiaí e Piracicaba


Avenida Francisco Glicério, centro de Campinas: RMC demanda "visão compartilhada" que está sendo observada na região metropolitana do Vale do Paraíba


Os Aglomerados Urbanos de Jundiaí e Piracicaba terão mapeamento digital, conforme decisão da Secretaria de Desenvolvimento Metropolitano de São Paulo. O mapeamento já havia sido executado na Região Metropolitana de São Paulo e está em curso na mais nova região metropolitana paulista, a do Vale do Paraíba e Litoral Norte. Ainda não há perspectiva de mapeamento nas regiões metropolitanas de Campinas e Baixada Santista.
O mapeamento digital visa a configuração das Unidades de Informações Territorializadas (UITs), contendo dados sobre perfil urbano ou rural, atividades socioeconômicas, demografia e outros. O propósito é subsidiar o planejamento e a formulação de políticas públicas.
A estruturação da Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte, a mais nova do estado,  instituída pela Lei Complementar no 1.166, de 9 de janeiro de 2012, vem ocorrendo de forma diferente das demais regiões metropolitanas. O governo de São Paulo promoveu, por exemplo, uma consulta pública para avaliar o potencial de desenvolvilmento da RMVale.
O objetivo da consulta, segundo o governo paulista, foi "abranger a diversidade de entendimentos e de características existentes nos 39 municípios da Região Metropolitana. O que se deseja é construir uma visão compartilhada com diversos atores quanto à perspectiva de desenvolvimento da Região".
Pois essa visão compartilhada também deveria ser estendida às regiões metropolitanas de Campinas e Baixada Santista. A mudança de prefeitos em janeiro de 2013, levando a modificações nas configurações dos Conselhos de Desenvolvimento das metrópoles, constitui excelente oportunidade para a ampliação da participação da cidadania nos processos de organização dessas áreas. A ampla participação cidadã será essencial para a própria governabilidade da chamada Macrometrópole Paulista, constituída pelas regiões metropolitanas e aglomerados urbanos já criados. (José Pedro Martins)   

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Região de Campinas mantém baixo desempenho em gestão ambiental no Programa Verde Azul


Campinas melhorou posição, mas teve um desempenho muito baixo em gestão ambiental nas cinco primeiras edições do Programa Verde Azul, das quais participou de apenas três

A Secretaria de Meio Ambiente de São Paulo divulgou na terça-feira, dia 18 de dezembro, a lista de 134 municípios (dos 371 participantes na edição de 2012) que conseguiram nota superior a 80 e foram reconhecidos como municípios exemplo na área ambiental, certificados pelo Programa Município Verde Azul. Cinco municípios da Região Metropolitana de Campinas (RMC) estão entre eles, sendo Vinhedo o primeiro a aparecer, no lugar 61 do ranking, com nota 87,15. Os demais são Americana (68 no ranking, nota 86,02), Indaiatuba (69, nota 85,97), Paulínia (73, nota 85,76) e Jaguariúna (132, nota 80,07). Campinas apareceu no lugar 231 do ranking, com nota 57,77, melhorando sua posição em relação aos anos anteriores, mas ainda com baixo desempenho, pelos critérios do Programa Verde Azul. A RMC manteve então em 2012, de modo geral, um baixo desempenho em gestão ambiental, verificado nas cinco edições do Verde Azul, pelos critérios do programa do governo estadual.
Os dez primeiros colocados no ranking de 2012 foram: Botucatu (nota 97,26), Sorocaba, Araraquara, Fernandópolis, Santa Fé do Sul, Taquarituba, Angatuba, Cajobi, Quadra e São José do Rio Preto (nota 93,57). O Programa Município Verde Azul foi lançado em 2007, visando  descentralizar a agenda ambiental paulista. No primeiro ranking, em 2008, 44 municípios atingiram nota igual ou superior a 80. Em 2009, foram 168. Em 2010, 144 municípios. Na edição de 2011, 159 receberam a certificação.
Os municípios recebem uma nota ambiental, considerando  o seu desempenho em dez diretivas do Programa Município Verde Azul: esgoto tratado, lixo, recuperação da mata ciliar, arborização urbana, educação ambiental, habitação sustentável, uso da água, poluição do ar, estrutura ambiental e conselho de meio ambiente.
De acordo com a Secretaria de Meio Ambiente de São Paulo, depois de cinco anos de programa hoje o estado conta com: 155 municípios elaboraram o Plano de Resíduos Sólidos; 410 municípios com coleta seletiva de resídiuos; 539 Secretarias Municipais/Departamentos/Divisões de Meio Ambiente;  567 Conselhos Municipais de Meio Ambiente deliberativos e 280 municípios com Fundos de Meio Ambiente; Articulações intermunicipais ambientais em Educação Ambiental (204 municípios) e Recuperação de Mata Ciliar (144 municípios); 205 municípios com parcerias entre prefeituras e pessoas físicas ou jurídicas; 318 municípios com Capacitação de Professores da Rede Municipal em educação ambiental; 335 municípios com Centros de Educação Ambiental; 261 municípios com Ciclovias; 276 municípios com Planos de Arborização Urbana; 361 municípios com Viveiros.
No ranking de 2011, a RMC teve os mesmos cinco municípios de 2012 entre 159 municípios com nota superior a 80: Jaguaríúna (55 no ranking, nota 87,10), Indaiatuba (97 no ranking, nota 83,81), Americana (112, com nota 82,88), Vinhedo (123, nota 81,81) e Paulínia (135, nota 81,07). Campinas figurou no lugar 564, com nota 13,78. Em 2010, Americana apareceu no lugar 75, com nota 84,25, seguindo-se  Vinhedo (121, nota 80,96) e Indaiatuba (139, nota 80,21), entre os 144 municípios com nota superior a 80. Campinas apareceu no lugar 642, com nota 5,68.  No ranking de 2009, o primeiro município da RMC a figurar na lista foi Vinhedo (lugar 134, nota 81,69), seguindo-se apenas Americana (142, nota 81,32) com nota superior a 80. Campinas não participou da edição 2009, que teve 566 municípios monitorados. No primeiro ranking divulgado, em 2008, Americana apareceu no lugar 15 (nota 87,17), seguindo-se somente Itatiba (25, nota 84,27) entre os 44 com nota maior que 80. Campinas também não participou da primeira edição do Município Verde Azul, que teve 332 municípios avaliados.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Região de Campinas tem sete municípios entre os 100 de maior PIB: falta avançar ação social e ambiental


Campinas tem PIB municipal maior do que muitas capitais estaduais

A Região Metropolitana de Campinas (RMC) tem sete de seus 19 municípios na lista dos 100 com maior PIB Municipal, conforme estudo divulgado hoje, 12 de dezembro, pelo IBGE. Campinas volta a figurar no décimo primeiro lugar no ranking, à frente de 17 capitais estaduais. O ranking mostra o enorme potencial da RMC na geração de renda e empregos, restando o desafio de avanços nas áreas social e ambiental.
Campinas apresentou um PIB em 2010 de RS 36,6 bilhões, representando 0,97% do total dos municípios brasileiros. O PIB de Campinas é maior do que os de Maceió, Natal e Cuiabá, juntos. Em segundo lugar na RMC aparece Paulínia (no lugar 69 do ranking), com R$ 8,1 bilhões. Em terceiro, Sumaré (lugar 70 no ranking), com R$ 7,8 bilhões.
O quarto lugar na RMC é ocupado por Vinhedo (84 no ranking), com R$ 6,7 bilhões. Em quinto lugar, Americana (86 no ranking), com R$ 6,6 bilhões. O sexto lugar é de Hortolândia (lugar 89), com R$ 6,2 bilhões. E o sétimo lugar é de Indaiatuba (lugar 95), com PIB Municipal de R$ 5,8 bilhões.
Os desafios sociais na RMC podem ser resumidos no fato de que a região conta com 63.613 famílias vinculadas ao Programa Bolsa Família, ou cerca de 240 mil pessoas dependentes de alguma forma do programa social mais conhecido. Números mais do que suficientes para indicar que a RMC, apesar de apresentar bons indicadores em algumas áreas, e de ser uma das mais dinâmicas economicamente no país, ainda tem um déficit social importante, demandando políticas públicas mais ousadas, em aliança entre poder público, setor empresarial e sociedade civil.
Na área ambiental, a região sofre com um déficit hídrico importante, com a reduzida cobertura florestal e poluição atmosférica crescente, agravada por frota de veículos cada vez maior. A região que sedia relevante centro de ciência e tecnologia precisa pensar imediatamente o seu futuro. (Por José Pedro S.Martins)


 


segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

“Juscelininho”, o apelido carinhoso de Niemeyer para o prefeito Toninho, que sonhava com um teatro de ópera no centro de Campinas


Para marcar mais um aniversário de Campinas, a 14 de julho de 2002, o jornal “Correio Popular” publicou um caderno sobre o patrimônio histórico da cidade. Eu não estava mais no jornal, mas escrevi uma matéria especial sobre o convite que o ex-prefeito Antonio da Costa Santos, o Toninho, havia feito para Oscar Niemeyer desenhar o projeto de um teatro para Campinas. Era um dos sonhos mais acalentados por Toninho, assassinado a 10 de setembro de 2001. Naquele que foi o primeiro aniversário de Campinas após essa tragédia, o artigo revelou o apelido carinhoso que Niemeyer deu para Toninho, “Juscelininho”. Abaixo, a reprodução do texto da matéria de dez anos atrás mas com tema tão atual, pois ainda não há perspectiva concreta de construção do teatro:

“Juscelininho” queria um teatro novo. O mago Niemeyer tirou o projeto da cartola

“Calma Juscelininho!” O arquiteto Oscar Niemyer gostava de comparar o seu companheiro de profissão, Antonio da Costa Santos, com o presidente Juscelino Kubitschek, que se projetou na história nacional como o símbolo do período em que o Brasil queria crescer “50 anos em 5″. JK, que governou o país entre 1956 e 1960, tinha pressa, e de seu delírio desenvolvimentista resultou uma das maiores obras da história da arquitetura, a cidade de Brasília, idealizada nas pranchetas mágicas de Lúcio Costa e do próprio Niemeyer.

Pois foi a Niemeyer que o prefeito Antonio da Costa Santos recorreu, para conceber o projeto de um teatro de ópera para o centro histórico de Campinas. A construção de um teatro de grandes dimensões – com capacidade para 1.400 pessoas – para apresentações de peças, shows e outras atividades culturais era um ingrediente estratégico no plano que Toninho havia idealizado para a revitalização do centro da cidade.

Como observa a esposa, Roseana Moraes Garcia, Toninho era um dos campineiros mais inconformados com a perda de dois ítens do patrimônio histórico local, o Teatro São Carlos, derrubado em 1922, e o seu sucessor, o Teatro Municipal, demolido em 1965. O Teatro Municipal havia sido construído em um espaço muito próximo de onde o Teatro São Carlos ficou instalado por por cerca de sete décadas, atrás da Catedral, na atual praça Rui Barbosa.

A edificação de um novo teatro no mesmo local seria praticamente impossível, em função da atual configuração urbanística da área central. Toninho discutiu pessoalmente o assunto em duas oportunidades com Niemeyer.

O prefeito não chegou a ver o projeto pronto. Niemeyer apresentou uma solução após discussões com Marco do Valle, membro da equipe de confiança formada por Toninho para “pensar a cidade”, como gostava de afirmar. A solução encontrada, para a localização do novo teatro de Campinas, foi utilizar a área empregada como terminal rodoviário urbano, entre a avenida Moraes Salles, o Palácio dos Azulejos e as ruas Regente Feijó e José Paulino.

Esta não era a intenção original de Toninho, que pretendia construir um museu multimídia no espaço onde está o terminal de ônibus. O museu também abrigaria os estúdios da rádio e TV municipal. Este foi o único local, entretanto, que acabou viabilizando o projeto de Niemeyer.

Como parte essencial do plano global para o Centro, o projeto arquitetônico do novo teatro municipal foi encomendado diretamente pelo prefeito ao mago Niemeyer. O renomado idealizador dos principais edifícios da capital federal, do complexo da Pampulha em Belo Horizonte e de outras obras fundamentais da arquitetura brasileira teria uma reunião com Toninho no dia 13 de setembro do ano passado, quinta-feira - e não sábado, dia 15, como chegou a ser divulgado. A reunião com Niemeyer, que viria a Campinas nesse dia, havia sido acertada na manhã de 10 de setembro. “Ele estava muito entusiasmado com a visita”, lembra Marco do Valle.

A reunião acabou não acontecendo. Toninho foi morto na noite daquele 10 de setembro – data em que, há 71 anos, era inaugurado o Teatro Municipal de Campinas, sucessor do Teatro São Carlos. Niemeyer ficou muito abalado com o assassinato, mas deu continuidade ao projeto, apresentado em linhas gerais para Roseana, Marco do Valle e outros profissionais. Professor no Instituto de Artes e Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Unicamp, Marco do Valle era a pessoa certa para o contato com Niemeyer. Sua tese de doutorado na USP foi sobre a trajetória do arquiteto: “Desenvolvimento da forma e procedimento de projetos na obra de Oscar Niemeyer: 1935-1998″.

Na tese, Valle mostra como Niemeyer desenvolveu um repertório de formas que acabou utilizando, com releituras e variações, ao longo de sua obra. “O Oscar tem um estilo único de acomodar as construções no terreno, como se elas estivessem pousadas sobre o solo”, observa Marco do Valle.

O professor da Unicamp observa ainda em sua pesquisa como Niemeyer, em sua opinião, desenvolveu um estilo influenciado pela forma de calcular principalmente de dois engenheiros, Emilio Baumgartem e Joaquim Cardoso. Com base nos estudos de cálculo de Baumgartem ele desenvolveu o projeto do Estádio Nacional, que acabou não sendo construído e que seria erguido onde está o Maracanã, no Rio de Janeiro.

Características do projeto estão presentes no Memorial da América Latina, em São Paulo. Sob influência dos cálculos aprimorados por Cardoso, o genial arquiteto concebeu obras como a Igreja de São Francisco de Assis, na Pampulha, com suas incríveis parábolas.

Como mostra a maquete que repousa sobre uma mesa no escritório do arquiteto, em Copacabana, no Rio de Janeiro, o projeto do teatro de Campinas tem algumas dessas marcas pessoais de Niemeyer, um artista sempre polêmico e provocador. As formas ondulantes que o consagraram estão lá, prontas para duelar com retas sóbrias e e repetitivas dos prédios construídos na segunda metade do século 20 no centro da cidade. O projeto exibe uma forma piramidal, mas com lados em curva. O estacionamento seria subterrâneo. Um elevador levaria os visitantes até um foyer que daria acesso ao teatro e a uma galeria para múltiplas exposições.

Não deixou de ser um desafio para Niemeyer idealizar um teatro para um espaço relativamente pequeno como o do antigo terminal de ônibus urbano. Normalmente o arquiteto trabalha com espaços maiores, que permitem maiores alternativas de composição. Mas ele acabou sucumbindo à insistência de “Juscelininho” campineiro, que também parecia ter pressa, como o presidente bossa nova.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Com 240 mil no Bolsa Família, Região Metropolitana de Campinas demanda maior ousadia na área social


Por-do-sol desde o centro de Campinas: região pode ser mais ousada na área social  

Os dados oficiais referentes a novembro indicam que os 19 municípios da Região Metropolitana de Campinas (RMC) reúnem 63.613 famílias vinculadas ao Programa Bolsa Família, ou cerca de 240 mil pessoas dependentes de alguma forma do programa social mais conhecido. Números mais do que suficientes para indicar que a RMC, apesar de apresentar bons indicadores em algumas áreas, e de ser uma das mais dinâmicas economicamente no país, ainda tem um déficit social importante, demandando políticas públicas mais ousadas, em aliança entre poder público, setor empresarial e sociedade civil.
As áreas de vulnerabilidade social da RMC já foram mapeadas pelo Núcleo de Estudos da População (Nepo) da Unicamp, indicando por exemplo os territórios de maior concentração de jovens, demandando políticas públicas específicas. Enfim, existem dados e estudos suficientes para subsidiar as políticas públicas que, espera-se, sejam incrementadas pelos prefeitos eleitos que tomarão posse em janeiro de 2013.
A RMC já foi mais ousada em termos de políticas públicas sociais, tendo sido pioneira em vários campos. Em 1964, quando a região começava a sentir os impactos da explosão demográfica, foi criada a Fundação FEAC, em Campinas. Depois vieram outras ações relevantes, como a criação nas décadas de 1970 e 1980 de organizações não-governamentais cuja missão responde a desafios emergentes, como o câncer infantil (Centro Boldrini), a AIDS (Centro Corsini), entre outros.
Durante o segundo governo de Magalhães Teixeira foi lançado um programa que, para muitos autores, é pioneiro em termos de execução de políticas compensatórias, hoje representadas pelo Bolsa Família, um dos maiores programas do gênero no mundo. Nessa mesma época a FEAC e a Prefeitura estavam juntas no Programa BID, de atendimento a crianças de rua.
Na primeira década do século 21, período em que o Bolsa Família alcançou uma enorme magnitude, as iniciativas locais e/ou regionais diminuíram um pouco o ritmo. Mas a RMC tem total condição de retomar sua vocação histórica e ser mais ousada, mais criativa, para equacionar os dramas sociais, que continuam sérios para muitas, milhares de pessoas. Contribuir para estratégias mais eficazes de desenvolvimento humano integral, em sintonia com os novos tempos, será um desafio de peso para os próximos prefeitos e vereadores na RMC.
Lembrando que em 2013 sairá o novo Índice de Desenvolvimento Humano Municipal, formulado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), com base nos dados do Censo 2010. Será uma excelente plataforma para vislumbrar novos rumos para a área social na região que se orgulha de ser uma das mais ricas e avançadas, em termos científicos e tecnológicos, no país.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Professor José Alexandre dos Santos Ribeiro, sobre teatros de Campinas - Parte II (Série Maiores Desafios de Campinas)



Segunda parte do depoimento do professor José Alexandre dos Santos Ribeiro, sobre os teatros de Campinas. Logo após lamentar a demolição do Teatro Municipal Carlos Gomes, no início da década de 1960, ele comenta a saga da transformação do Cine Casablanca no Teatro Castro Mendes, em 1970, na sua gestão como secretário municipal.

SÉRIE MAIORES DESAFIOS DE CAMPINAS 

Professor José Alexandre dos Santos Ribeiro, sobre teatros de Campinas - Parte I (Série Maiores Desafios de Campinas)



Primeira parte do depoimento do professor José Alexandre dos Santos Ribeiro, sobre a trajetória dos teatros de Campinas, desde a inauguração do Teatro São Carlos, em 1850, até sua demolição e construção do Teatro Municipal, inaugurado em 1930. Depoimento ao jornalista e escritor José Pedro Martins, que lhe perguntou sobre o maior desafio de Campinas na área cultural, nas vésperas da posse de um novo governo municipal, do prefeito eleito Jonas Donizette, em janeiro de 2013.

SÉRIE MAIORES DESAFIOS DE CAMPINAS

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Campinas, meu amor, por Zaiman de Brito

Algumas histórias de Zaiman, reunidas em "Campinas, meu amor": tributo à cidade

Um amor imenso, pelas ruas e sua literatura, pelas praças e sua poesia, pelo povo e sua vibração, pela Ponte Preta, a maior paixão. Não é outro o sentimento de Zaiman de Brito em relação a Campinas, desde que aqui chegou, com a mãe, já viúva, a querida Dona Zaíra, e dois irmãos. O fluminense de Macaé se tornou campineiro até os ossos, e um de seus maiores cronistas, com histórias contadas em jornal, rádio, televisão e, agora, internet.

Muitas dessas histórias estão contadas em “Campinas, meu amor – A cidade pelos olhos de Zaiman de Brito Franco”, livro escrito em parceria minha com Helton Pimenta. Livro produzido a partir dos causos que Zaiman contava para Helton na rádio e, depois, televisão. Foi um desafio enorme manter o frescor, tentar reproduzir a magia com que Zaiman faz os seus relatos sobre os bons tempos do restaurante Armorial, do bar Ideal, da boate em frente à Igreja do Carmo.

Histórias povoadas de gente, de gente de verdade, com suas dores, alegrias e esperanças. A renda do livro foi destinada ao Centro Boldrini e ao Centro Corsini, dois exemplos da vocação solidária de Campinas. Abaixo, algumas histórias, pequena amostra do que Zaiman contou e, principalmente, viveu:

O editor pianista – Uma das figuras mais incríveis da boate El Cairo era o pianista, Cataldo Bove. Foi talvez o único pianista e ao mesmo tempo jornalista da história. Ao mesmo tempo não é figura de linguagem. Cataldo editava o jornal, que ficava na esquina das ruas Barão de Jaguara e General Osório e, quando tinha um tempo, corria até a boate para tocar As time goes by ou outra do gosto do público. Tocava e, quando chegava um telegrama urgente, com matéria a ser publicada na edição do dia, corria para o jornal. Às vezes alguém do jornal ligava, pedindo orientação sobre o que fazer com uma matéria que havia ´estourado´, ou seja, era maior do que o espaço previsto para ela na página. ´Corta o pé´, respondia o jornalista do piano.

Bares coladinhos – No Bar Leblon, na área do Largo do Carmo depois conhecida como Praça do Chope, políticos foram servidos várias vezes por um garçom charmoso, boa conversa, que depois virou líder metalúrgico e vereador. Era Cid Ferreira. Ficava ao lado do Bar do Arlindo, o Ponto Chique: se um estava cheio, era só pular para o outro e vice-versa.

Reação – Vila Belmiro. Santos 10 x Guarani 0. Falta apenas um minuto pro jogo terminar quando Augusto, centroavante bugrino, faz o gol do Guarani. Na cabine o saudoso Mário Mellilo, que transmitia a partida, após narrar o gol, renovou as esperanças: “Começa a reação do Guarani…”

Bem caro – Na Copa de 58 não tinha TV. Garoto, Zaiman acompanhou tudo no Largo do Rosário, onde a PRC-9 instalou um balão, que atraiu todas atenções da cidade. O Biné era dono do Giovanetti, o primeiro, em pleno Largo. Terminado o jogo final da Copa, pela primeira vez o Brasil campeão do mundo, o Biné resolveu pagar para chope para todo mundo. Mas pediu para ninguém tomar até ele fazer um brinde. Tinha umas 100 pessoaas no bar e na calçada. Biné levantou o copo para brindar. Mas o copo escapou e foi ao teto. Todo mundo pensou que era para fazer o mesmo e atirou copos com chope e tudo. Biné tomou na cabeça. Foi o chope mais caro da história.

Templo do futebol – Criança, acompanhando a construção do estádio da Ponte Preta, Zaiman ouviu de alguém que aquele seria um “templo do futebol”. À noite, tomando sopa, perguntou para a mãe: “Mãe, o que é templo?” E Dona Zaíra, rápida: “Templo, meu filho, é uma igreja”. O moleque foi dormir pensando, muito preocupado: “Será que a Ponte vai virar uma Igreja?”

Poeminha de Zaiman - “Eu quero um terraço,/ de preferência com goteira./ Onde chova você/ a noite inteira”.

domingo, 2 de dezembro de 2012

Desastres naturais na Região Metropolitana de Campinas aumentam 26 vezes no século 21



Uma das rodovias de acesso a Campinas: região precisa se preparar melhor para riscos de desastres naturais

Inundação brusca ou gradual, movimentos de massa, vendavais e até os temidos tornados. Na primeira década do século 21, os desastres naturais aumentaram 26 vezes na Região Metropolitana de Campinas (RMC), em comparação com a última década do século 20. Os dados estão no Atlas Brasileiro de Desastres Naturais 1991 a 2010, publicado pela Secretaria Nacional de Defesa Civil e fruto de trabalho desenvolvido pelo Centro Universitário de Estudos e Pesquisas sobre Desastres, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Se ainda existia alguma dúvida sobre como o Brasil já sofre os impactos das mudanças climáticas, elas foram desfeitas pela edição do Atlas, e a situação da Região Metropolitana de Campinas é muito ilustrativa sobre essa constatação. Os dados sobre a RMC ratificam a exigência de maior e melhor preparação da região para a tendência de incremento dos desastres naturais.
Os responsáveis pelo Atlas são claros em alertar que os dados nacionais sobre a ocorrência de desastres naturais na última década do século 20, contidos no relatório (com base nos fatos que levaram à decretação de estado de emergência ou calamidade pública), devem ser vistos com cuidado, considerando "que é sabida a histórica fragilidade do Sistema de Defesa Civil em manter atualizados seus registros". A publicação afirma que o sistema de coleta e interpretação de dados pela Defesa Civil foi muito aprimorado, com a entrada em vigor, na segunda metade da década de 1990, do Formulário de Avaliação de Danos (AVADAN), que substituiu o Relatório de Danos. 
Feitas essas considerações, o Atlas afirma que, "como tendência, é possível apenas afirmar que tanto os desastres têm potencial crescimento, como o fortalecimento do sistema, a fidelidade aos números e o compromisso no registro também crescem com o passar dos anos".
Apesar dessas observações, os dados no Atlas Brasileiro são evidentes ao apontar uma nítida tendência de crescimento da ocorrência de desastres naturais no país nos últimos anos, período em que, segundo a maior parte da comunidade científica, foram fortes os sinais das mudanças climáticas globais. A primeira década do século 21, segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), foi a mais quente registrada desde 1880, superando a década de 1990, que já tinha sido a mais quente até então. Segundo a mesma fonte, a temperatura média mundial aumentou 0,4 graus entre 1992 e 2010 (mesmo período das informações contidas no Atlas Brasileiro de Desastres Naturais).
De acordo com o Atlas, foram registrados no Brasil 23.238 desastres naturais na primeira década do século 21, em relação aos 8.671 desastres registrados na década de 1990. No estado de São Paulo, foram 831 desastres registrados entre 1991 e 2010, a maior parte na primeira década do século 21.

Segundo o Atlas, no conjunto dos 19 municípios da RMC foram registrados 27 desastres naturais nesses 20 anos, sendo 26 na primeira década do século 21. Foram 15 episódios de inundação brusca, o tipo de desastre natural com maior número de registros em território paulista (452, ou 54% dos desastres no estado no período estudado). Com quatro episódios, Sumaré foi o município mais atingido por inundação brusca, seguido de Campinas com três, Monte Mor com dois e Holambra, Indaiatuba, Paulínia, Pedreira, Santa Bárbara D´Oeste e Valinhos, com um episódio cada. O período chuvoso é obviamente aquele com maior número de casos na RMC e em São Paulo: foram 221 casos em janeiro, 117 em fevereiro, 44 em dezembro e 24 em março, em todo estado, provocando 153 mortes, 17 pessoas gravemente feridas, 48 desaparecidas, 485 levemente feridas, 1034 enfermas,  63.653 desabrigadas, 63.133 deslocadas, 92.984 desalojadas e 3.743.793 pessoas afetadas.
O Atlas registra quatro episódios de inundação gradual na RMC, em Americana, Itatiba, Monte Mor e Santa Bárbara D´Oeste. Em todo estado, foram 70 casos de inundação gradual, sendo 50 em fevereiro, 44 em janeiro e 4 em dezembro. Foram 55 casos de inundação gradual somente em 2010.
Foram registrados dois casos de vendaval e/ou ciclone, um em Monte Mor e um em Santa Bárbara D´Oeste, e dois de tornados, ambos em Indaiatuba, sendo um em 1991 e um em 2005. Indaiatuba e Itu lideram, com dois casos cada (em Itu, ambos em 1991), o ranking de ocorrência de tornados em São Paulo no período analisado. Outros municípios paulistas atingidos por tornado foram Capivari, Guapiara, Guaratinguetá, Santo Antônio do Pinhal, Tapiratiba e Turmalina. A região próxima a Campinas, portanto, foi a mais atingida por tornados em território paulista.
Identificados ainda quatro casos de movimentos de massa na RMC, um episódio cada em Americana, Itatiba, Monte Mor e Santa Bárbara D´Oeste. Em todo estado foram 70 casos de movimentos de massa, sendo 45 no mês de janeiro, 16 em fevereiro, 4 em dezembro e 3 em março. Dados mais do que suficientes para aprimorar sistematicamente o sistema de prevenção de desastres, principalmente no período chuvoso que está começando agora. 
Outros dados reforçam a tendência de maior número de desastres no estado, em função das mudanças climáticas. Foram  114 episódios de seca ou estiagem que levaram a estado de emergência ou calamidade pública, a imensa maioria na região Oestes do Estado, sendo 91 em 2005, 15 em 2009, 4 em 2008, 2 em 2006, e 1 em 2004 e 2010. Foram 59 casos de seca ou estiagem em fevereiro, portanto em pleno período normalmente chuvoso.
Provavelmente o número de casos de desastres naturais na RMC tenha sido maior no período abrangido pelo Atlas, e que não foram registrados pelos motivos citados. Mas as informações contidas no Atlas, referentes à região e a todo estado de São Paulo, são suficientes para reforçar a necessidade de aprimoramento sistemático do sistema de prevenção, controle e atendimento a eventuais vítimas na RMC, com planos de contingência muito bem formulados e articulados. Muitos estudiosos afirmam que o mundo caminha para a sociedade da resiliência, marcada pela preparação para enfrentar os riscos e as incertezas, e as incertezas climáticas são uma delas.