em Campinas, no Dia Mundial da Água de 2011
debatem desafios das águas no Brasil
em Campinas, após febre amarela no final do século 19
vice-prefeito Demétrio Vilagra e presidente da Sanasa, Lauro Péricles
A sociedade brasileira tem uma indignação retórica, e por isso não age como deveria em relação ao enorme déficit no saneamento, uma das principais causas da má qualidade da água em muitas regiões do país mais privilegiado em recursos hídricos do planeta. A afirmação é do jornalista Washington Novaes, e foi feita na manhã deste dia 22 de março de 2011, em Campinas, em evento relacionado ao Dia Mundial da Água. O evento marcou a inauguração do auditório Capivari da sede da Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento S.A (Sanasa).
O prefeito dr.Hélio de Oliveira Santos participou da cerimônia, e lembrou como o saneamento começou a ser tratado com seriedade em Campinas, após a epidemia de febre amarela no final do século 19 e que devastou a cidade. Mais de um século depois, complementou o prefeito, a cidade dá o exemplo, com o avanço exponencial no tratamento de esgotos. Até 2012 estará instalada a capacidade de tratamento de 100% dos esgotos, após a inauguração de estações como a Estação Produtora de Água de Reuso (Repar), na bacia do rio Capivari.
Também participaram da cerimônia o vice-prefeito e presidente da Ceasa-Campinas, Demétrio Vilagra, o presidente da Sanasa, Lauro Péricles, e o vereador Luiz Yabiku, representando a Câmara Municipal. Outros vereadores e diversos secretários municipais acompanharam a solenidade.
Múltiplos desafios - O evento na Sanasa, na manhã de quarta-feira, 22 de março, foi encerrado com um painel com a participação dos jornalistas Washington Novaes e José Pedro Martins. Uma das referências no jornalismo ambiental brasileiro, Novaes considerou um enorme absurdo os déficits no saneamento no país, como o fato de que mais da metade dos domicílios ainda não esteja ligada à rede coletora de esgotos. Citou o caso de Belém, em plena Amazônia, onde há apenas 8% de coleta e 3% de tratamento de esgotos.
Novaes defendeu a cobrança pelo uso dos recursos hídricos, o fortalecimento dos Comitês de Bacias Hidrográficas e a cobrança dos geradores de resíduos pelo lixo que produzem. Observou que a composição do Conselho Nacional de Recursos Hídricos, em sua maioria por membros ligados a órgãos do governo federal, gera situações como a da aprovação da transposição do Rio São Francisco. "A transposição foi recusada por imensa maioria no Comitê do São Francisco, mas acabou aprovada no CNRH pela maioria governista", protestou.
O jornalista também denunciou o risco de adoção da tecnologia de incineração de resíduos no Brasil e afirmou que, se aprovado o projeto do deputado Aldo Rebelo (PC do B), de modificação do Código Florestal, o setor agrícola "caminhará para o suicídio", na medida em que a redução da área de preservação permanente terá impacto direto na produção de águas para a lavoura. No final, defendeu uma postura mais ativa da sociedade brasileira, que a seu ver sofre de indignação retórica, não protestando e sobretudo agindo em relação a déficits no saneamento e todos os riscos ligados ao abastecimento de água. O ser humano precisa considerar todas espécies vivas e recursos naturais como importantes, este é um passo essencial para uma nova cultura ambiental, concluiu Washington Novaes, articulista de "O Estado de São Paulo" e comentarista na TV Cultura.
O jornalista José Pedro Martins observou que a região da bacia do Rio Piracicaba tem dado (com iniciativas como a criação do Consórcio Intermunicipal das Bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí) importante contribuição na reflexão e em ações visando a proteção das águas no Brasil, incluindo a formulação da Lei Nacional de Recursos Hídricos, de 1997. Protestou contra a falta de medidas concretas relacionadas a alternativas ao Sistema Cantareira e lembrou que a Sanasa resistiu às várias tentativas de privatização. Lembrou ainda que houve forte movimento em Campinas contra um projeto de incineração de resíduos na cidade, que acabou sendo arquivado, na década de 1990. E pontuou que o Brasil, "país com alma de água", país mais privilegiado em recursos hídricos do mundo, não lidera como deveria um debate internacional sobre novo modelo de uso e proteção das águas.
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