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domingo, 31 de julho de 2011

Região de Campinas é pioneira em alerta sobre destruição ambiental

A mobilização em defesa dos recursos naturais e contra a degradação não é recente na Região Metropolitana de Campinas (RMC). Pelo contrário, duas instituições centenárias sediadas na região lutam há décadas pela preservação ambiental e têm papel fundamental na consolidação de uma cultura ambientalista no Brasil: Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e Centro de Ciências, Letras e Artes (CCLA), que completa 110 anos em outubro.
Foi um dos filhos da aristocracia cafeeira da região de Campinas, o conselheiro Antônio Prado, um dos grandes responsáveis pela criação, em 1885, da Imperial Estação Agronômica. A monarquia de D.Pedro II entrava em profundo desgaste, que se seguiu à Guerra do Paraguai e prosseguiu com o fortalecimento do abolicionismo e do movimento republicano, que tinha em Campinas alguns de seus principais líderes. Muitos fazendeiros de café foram atraídos pelo republicanismo.
De forma paralela ao enfraquecimento do modo de produção escravocrata, evoluía o projeto de estímulo à imigração de colonos europeus para trabalhar na lavoura (os primeiros colonos europeus, alemães, foram introduzidos nas propriedades do senador Vergueiro, na região de Campinas).
Foi nesse cenário que uma lei da agonizante monarquia criou, em setembro de 1885, a Imperial Estação Agronômica de Campinas, entre outros objetivos com o de buscar a diversificação agrícola, com o resultante crescimento da riqueza da aristocracia agrária (abalada com o esvaziamento da escravidão) e a preparação do terreno para atrair a mão-de-obra européia. De fato, uma das missões do primeiro diretor da Estação Agronômica, o austríaco Franz Wilhelm Dafert, era o de tentar a aclimatação da cultura da uva, como forma de atrair em especial os colonos italianos. Um ano depois da criação da Estação Agronômica seria fundada a Sociedade Promotora da Imigração.
Criada em setembro de 1885, a Estação Agronômica foi de fato implantada a 27 de junho de 1887, considerada a data oficial de fundação da instituição, um ano antes, portanto, da Abolição da Escravatura (conforme lei de 13 de maio de 1888) e dois antes da Proclamação da República (a 15 de novembro de 1889).
De modo paralelo às questões políticas, sucessivas epidemias de febre amarela tiveram impacto na etapa de implantação da Estação Agronômica - tornada propriedade do Estado de São Paulo em 1890. Dois anos depois, a instituição se denominaria Instituto Agronômico do Estado de São Paulo.
Entre 1889 e 1897 cerca de 2.500 pessoas morreram em Campinas, vítimas da febre amarela. As vítimas eram sobretudo pessoas pobres, pois quem tinha recursos fugia da cidade, que ficou quase abandonada.
Não se sabia, na época, que o mosquito Aedes aegypti era o responsável pela propagação da febre amarela. Foram ineficazes as medidas tomadas para a combater as epidemias. O número de vítimas fatais equivalia a 6% da população da cidade na época - foi como se 60 mil moradores hoje de Campinas, que tem uma população total de mais de 1 milhão de habitantes, morressem em um espaço de cinco anos, vítimas de alguma doença tropical.
Sob o impacto da febre amarela, uma das primeiras unidades instaladas no Instituto Agronômico foi a Seção de Fitopatologia, destinada a pesquisar e sugerir medidas para erradicar as doenças de plantas.

Alerta sobre florestas - A destruição das florestas, para dar espaço aos cafezais, continuaria inquietando os pesquisadores do Instituto Agronômico entre o final do século 19 e início do século 20. As estimativas são de que, nesse período, 10 mil quilômetros quadrados - área equivalente a 5% do território de São Paulo e a 10% do território de Cuba - de florestas nativas em território paulista foram substituídas por cafezais.
Os impactos do café e das ferrovias nas florestas de São Paulo foram denunciados no primeiro número da “Revista do Centro de Ciências, Letras e Artes”, um núcleo de intelectuais criado em Campinas em 1901. As denúncias foram feitas por João Pedro Cardoso, ligado ao Instituto Agronômico e quer seria depois inspetor do 2o Distrito Agronômico de Campinas.
Ainda em 1902, o mesmo João Pedro Cardoso foi o grande responsável pela comemoração, na cidade de Araras, na região de Campinas, do primeiro Dia da Árvore no Brasil. Cardoso inspirou-se no “Arbor-Day”, que era promovido desde 1872 nos Estados Unidos. O Dia da Árvore passaria a ser comemorado no Brasil todo dia 21 de setembro, na entrada da Primavera, como um símbolo do renascimento da natureza pós-Inverno.
A tradição florestal seria mantida pelo Instituto Agronômico de Campinas ao longo de todo o século 20. No início da década de 1960, pesquisadores do Instituto coordenaram a execução do primeiro levantamento aerofotogramétrico da cobertura florestal do território paulista.
Foram feitas 25 mil fotografias aéreas de cada ponto do território paulista. O levantamento concluiu que, no início da década de 1960, o Estado de São Paulo tinha 3.405.800 hectares de floresta nativa, ou 13,7% do território paulista. Pelo esforço tecnológico e científico desenvolvido, o trabalho chamou a atenção da comunidade científica internacional para a tragédia representada pela destruição de um dos principais patrimônios ambientais da humanidade, a Mata Atlântica, que por uma ocupação inadequada, iniciada pelos colonizadores portugueses, reduziu-se a menos de 10% de sua extensão original, de 1 milhão de quilômetros quadrados.
A contribuição do Instituto Agronômico de Campinas para a construção de uma consciência e de uma cultura ambientalista no Brasil não se limita à área florestal. Foram igualmente pioneiros no Brasil os estudos preventivos à erosão nos solos, realizados pela seção de Agrogeologia do Instituto, criada em 1935 e que teve como primeiro chefe o alemão Paul Vageler. Os estudos preliminares coordenados por Vageler foram a base dos zoneamentos agroecológicos, que passaram a ser realizados pelo IAC na década de 1960, com o uso de fotografias aéreas e, depois, com fotos por satélite. (Por José Pedro S.Martins)

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