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quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Mobilidade urbana sustentável depende de pressão e ação social, diz engenheiro em debate no SESC-Campinas

Para o engenheiro Agenor Cremonese, implementação da Política Nacional de Mobilidade Urbana Sustentável depende de organização e pressão social



Engenheiro Cremonese e jornalista José Pedro Martins

no debate sobre mobilidade urbana no SESC-Campinas



A mobilidade urbana sustentável, que garanta o direito das pessoas transitarem com liberdade pelas cidades, com um sistema focado no ser humano e não nos veículos e que use tecnologias baseadas em combustíveis limpos, apenas será alcançada com uma forte mobilização social e com ações efetivas de transformação. A posição foi defendida nesta quinta-feira, 1 de setembro, no SESC-Campinas, pelo engenheiro Agenor Cremonese, durante o debate sobre A mobilidade urbana que temos e a que queremos.


Cremonese é um dos principais especialistas do tema no Brasil. Já trabalhou para a Prefeitura de Campinas, coordenou programas de segurança no trânsito em parceria com a Rebal (vinculada à União Europeia) e atualmente presta assessoria para as prefeituras de Bragança Paulista e Osasco. Para ele, o sistema de mobilidade urbana vigente hoje no Brasil é, de forma geral, insustentável.


Ele citou estudos mostrando que a maior parte das viagens para o trabalho e estudo, em grandes centros urbanos brasileiros, ainda se dá a pé e por meio de transporte coletivo. Apesar disso, os sistemas de tráfego e trânsito nas grandes cidades ainda privilegiam o fluxo de automóveis particulares, e não o transporte coletivo ou por outros meios como a pé ou mesmo bicicleta.


O transporte por automóvel, observou, é muito mais poluente e ocupa maior espaço, em termos comparativos, do que o transporte coletivo. Além de tudo, o Brasil continua nos primeiros lugares em número de mortes por acidentes de trânsito em todo mundo. Tanto a tragédia das mortes e ferimentos em acidentes como a perda de horas no trânsito significam perdas enormes também em termos financeiros para o país, observou. Outra face do sistema excludente de mobilidade urbana no Brasil, notou, é o fato de que cresce a cada década o gasto das famílias com transporte, atingindo sobretudo as faixas de menor renda.


Por este cenário, o sistema de mobilidade urbana vigente no Brasil é insustentável. Agenor Cremonese lembrou da recente aprovação da Política Nacional de Mobilidade Urbana Sustentável, que contém mecanismos apontando para a modificação do panorama vigente nas grandes cidades e sobretudo em regiões metropolitanas como a de Campinas.


A Política Nacional prevê a mobilidade urbana focada no transporte das pessoas e não de veículos, o total direito à informação sobre mobilidade, o controle social e democrático sobre a mobilidade e, entre outros pontos, a universalização do direito de acesso ao transporte público coletivo. O barateamento das tarifas, a estruturação de ciclovias seguras, a disseminação de tecnologias visando melhorias ambientais e acessibilidade a todos são outros pontos da Política Nacional, cuja implementação, na opinião do engenheiro Cremonese, dependerá essencialmente de ação política, pela cidadania ativa e organizada.


Na sua opinião, o atual sistema de mobilidade urbana no Brasil é mais próximo ao padrão americano, focado nos veículos particulares, do que do padrão que avança na Europa, onde é cada vez maior o número de cidades que aplicam medidas privilegiando o trânsito a pé, por bicicletas ou transporte coletivo. Em algumas cidades, como Londres, observou, é implementado um caro pedágio para quem circular por ruas centrais de automóvel individual. Em outras, como Paris, é crescente o uso de bicicletas alugadas pelo próprio município.


Uma mobilidade urbana sustentável, acrescentou Cremonese, dependerá, enfim, de escolhas políticas da sociedade, sobre quais caminhos ela pretende trilhar. Qual é o projeto de sociedade, enfim. O debate no SESC-Campinas faz parte da série "Fala mais sobre isso" e incluiu apresentação da Prefeitura de Indaiatuba, onde o uso de bicicleta é forte tradição cultural e onde existem ciclovias estruturadas. Cidade com cerca de 200 mil moradores, Indaiatuba teria cerca de 100 mil bicicletas, com forte uso para o trabalho, educação e lazer.

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