terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Campinas, meu amor, por Zaiman de Brito

Algumas histórias de Zaiman, reunidas em "Campinas, meu amor": tributo à cidade

Um amor imenso, pelas ruas e sua literatura, pelas praças e sua poesia, pelo povo e sua vibração, pela Ponte Preta, a maior paixão. Não é outro o sentimento de Zaiman de Brito em relação a Campinas, desde que aqui chegou, com a mãe, já viúva, a querida Dona Zaíra, e dois irmãos. O fluminense de Macaé se tornou campineiro até os ossos, e um de seus maiores cronistas, com histórias contadas em jornal, rádio, televisão e, agora, internet.

Muitas dessas histórias estão contadas em “Campinas, meu amor – A cidade pelos olhos de Zaiman de Brito Franco”, livro escrito em parceria minha com Helton Pimenta. Livro produzido a partir dos causos que Zaiman contava para Helton na rádio e, depois, televisão. Foi um desafio enorme manter o frescor, tentar reproduzir a magia com que Zaiman faz os seus relatos sobre os bons tempos do restaurante Armorial, do bar Ideal, da boate em frente à Igreja do Carmo.

Histórias povoadas de gente, de gente de verdade, com suas dores, alegrias e esperanças. A renda do livro foi destinada ao Centro Boldrini e ao Centro Corsini, dois exemplos da vocação solidária de Campinas. Abaixo, algumas histórias, pequena amostra do que Zaiman contou e, principalmente, viveu:

O editor pianista – Uma das figuras mais incríveis da boate El Cairo era o pianista, Cataldo Bove. Foi talvez o único pianista e ao mesmo tempo jornalista da história. Ao mesmo tempo não é figura de linguagem. Cataldo editava o jornal, que ficava na esquina das ruas Barão de Jaguara e General Osório e, quando tinha um tempo, corria até a boate para tocar As time goes by ou outra do gosto do público. Tocava e, quando chegava um telegrama urgente, com matéria a ser publicada na edição do dia, corria para o jornal. Às vezes alguém do jornal ligava, pedindo orientação sobre o que fazer com uma matéria que havia ´estourado´, ou seja, era maior do que o espaço previsto para ela na página. ´Corta o pé´, respondia o jornalista do piano.

Bares coladinhos – No Bar Leblon, na área do Largo do Carmo depois conhecida como Praça do Chope, políticos foram servidos várias vezes por um garçom charmoso, boa conversa, que depois virou líder metalúrgico e vereador. Era Cid Ferreira. Ficava ao lado do Bar do Arlindo, o Ponto Chique: se um estava cheio, era só pular para o outro e vice-versa.

Reação – Vila Belmiro. Santos 10 x Guarani 0. Falta apenas um minuto pro jogo terminar quando Augusto, centroavante bugrino, faz o gol do Guarani. Na cabine o saudoso Mário Mellilo, que transmitia a partida, após narrar o gol, renovou as esperanças: “Começa a reação do Guarani…”

Bem caro – Na Copa de 58 não tinha TV. Garoto, Zaiman acompanhou tudo no Largo do Rosário, onde a PRC-9 instalou um balão, que atraiu todas atenções da cidade. O Biné era dono do Giovanetti, o primeiro, em pleno Largo. Terminado o jogo final da Copa, pela primeira vez o Brasil campeão do mundo, o Biné resolveu pagar para chope para todo mundo. Mas pediu para ninguém tomar até ele fazer um brinde. Tinha umas 100 pessoaas no bar e na calçada. Biné levantou o copo para brindar. Mas o copo escapou e foi ao teto. Todo mundo pensou que era para fazer o mesmo e atirou copos com chope e tudo. Biné tomou na cabeça. Foi o chope mais caro da história.

Templo do futebol – Criança, acompanhando a construção do estádio da Ponte Preta, Zaiman ouviu de alguém que aquele seria um “templo do futebol”. À noite, tomando sopa, perguntou para a mãe: “Mãe, o que é templo?” E Dona Zaíra, rápida: “Templo, meu filho, é uma igreja”. O moleque foi dormir pensando, muito preocupado: “Será que a Ponte vai virar uma Igreja?”

Poeminha de Zaiman - “Eu quero um terraço,/ de preferência com goteira./ Onde chova você/ a noite inteira”.

4 comentários:

  1. Conheci Zaiman nos idos de 58, 59...Vinha de São Paulo participar de noitadas com muita poesia e muita cerveja, antes das serenatas para as meninas de um colégio de freiras alí no centro de Campinas. Com ele aprendi a amar e viver nossa poesia. Jamais esqueço sua entonação de Castro Alves..."És rainha? Sou poeta, teu orgulho não me afeta porque tenho coração. Não troco uma estrofe minha por seu colar de rainha, ou por troféu de latão!"
    Grande Zaiman! nunca mais o encontrei, penso que nem se lembrará mais desses eventos...Mas posso dizer, Zaiman me fez uma pessoa melhor...

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  2. No último comentário que fiz, devido a um vício de redação, tem-se a impressão de que o trecho citado entre aspas é de Castro Alves. Não foi isso que quis dizer. Lembrava-me da entonação brilhante que Zaiman imprimia às poesias de Antonio de Castro Alves, é verdade, mas o trecho entre aspas é de autoria de Trasíbulo Ferraz Moreira. É uma parte da poesia "Orgulhosa", recitada de improviso ao final de um baile.

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  3. Zaiman de Brito continua em Campinas, mora muito próximo do Centro de Convivência no Cambuí, e costuma almoçar no restaurante Caçarola. Está absolutamente bem, com suas histórias a contar, sempre tranquilo e bem humorado, grande amigo e, pode-se dizer: ele é a história viva de Campinas.

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