sexta-feira, 23 de novembro de 2012

CAFÉ COM MARCO PADILHA: A SINFONIA DA VIDA


Um café com Marco Padilha, diretor da Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas. Só um café mesmo, para ele, que também tomou uma água sem gás. Eu tomei uma com gás. Ele é o autor do Concerto para Violino e Orquestra e Concerto para Violoncelo, que estão tendo estreia mundial nestes dias 22, 23 e 24 de novembro, na Sala São Paulo, pela Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, tendo o maestro Giancarlo Guerrero como regente e Antonio Meneses como solista.

No começo, um desabafo. “Às vezes não sabemos porque continuamos a fazer o que se gosta. Dá a impressão que nadamos contra a correnteza”, lamenta, se dizendo horrorizado com a “guerra civil” em muitos lugares de grandes cidades brasileiras.

Cita um exemplo muito claro: a Décima Sinfonia de Heitor Villa-Lobos (1887-1959) permanecia quase desconhecida do grande público. Agora será finalmente gravada, em 2013, por iniciativa da Osesp, que está desenvolvendo projeto sobre o grande compositor com o maestro Isaac Karabtchevsky.

Ou seja, sinal de que a música erudita no Brasil ainda precisa caminhar muito. Aos poucos, depois do desabafo, o campineiro Marco Padilha volta a se entusiasmar com o que mais gosta, a música, que exerce ao lado de outra profissão, a de relações públicas, especializado em cerimonial.

Conta que começou tarde. Tinha cerca de 15 anos quando ouviu a Quinta Sinfonia, de Beethoven, em um dos fascículos da Abril. Paixão fulminante, disse para a mãe Ana que gostaria de estudar música. Estudou com Maria Helena Caldatto, depois com Orlando Fagnani e Conservatório Carlos Gomes,, até que foi “adotado” pelo grande José Antonio Rezende de Almeida Prado (1943-2010), que deu aulas na Unicamp por 25 anos.

Padilha formou-se na primeira turma de música do Instituto de Artes da Unicamp, e também cursou Relações Públicas pela PUC-Campinas. Funcionário pela Unicamp, trabalhou com José Aristodemo Pinotti na Secretaria Estadual da Saúde, depois na Câmara e Prefeitura de Campinas.

Duas, ou muitas vidas, em uma. Pausa para um gole de água, ele, de café.

OBRAS PELO MUNDO - Padilha ficou, claro, muito feliz com a encomenda feita pela Osesp. Uma das principais orquestras da América Latina, no principal templo da música erudita no Brasil, com um importante solista. Tudo o que um compositor poderia sonhar.

Padilha tem outros marcos. Várias de suas obras foram exibidas no exterior. Em 1992, ganhou o primeiro lugar em concurso em Zurique, Suíça, com sua composição “Mystagogos” (Mestre dos Mistérios, em grego) Hommage à Olivier Messiaen Op. 14, para flauta- clarinete-violino-violoncelo-piano-percussão. O tema do Festival daquele ano era o Brasil, e o Conjunto Música Nova de Zurique encomentou partituras a 60 compositores brasileiros.

Também teve obra executada pelo violoncelista Antonio Meneses na Fundação Americas Society, em Nova York, e em 2010 em festival em Toulouse, na França. Foi a obra “L´amour, oublier”, inspirada em poema de Paul Verlaine, e que narra a tragédia de uma mulher enlouquecida com um amor que se foi. A peça foi executada, por encomenda, por Les Sacqueboutiers de Toulouse, um grupo de música antiga, e recebeu importantes elogios da crítica francesa. Padilha é o único brasileiro com encomenda feita por esse grupo conhecidíssimo na Europa.

Muitas conquistas, portanto, e o compositor-cerimonialista-relações públicas compartilha o bom gosto pela música erudita no programa Intermezzo, todo domingo, das 19 às 22 horas, na Rádio Educativa, de Campinas. O programa permaneceu durante anos na antiga Rádio Morena. O diretor artístico era Luiz Ceará. Padilha apresentou a ideia, Ceará disse que fariam uma experiência de três meses. Em pouco tempo o programa era líder de audiência em sua faixa de horário e permaneceu por longos anos na emissora.

As garrafas de água mineral estão no fim. Padilha respira e transpira o seu amor pela música. Peço então para ele me indicar cinco músicas, para cinco temas que, acredito, sejam aqueles para sempre fundamentais para o ser humano: Amor, Vida, Morte, Esperança e Desespero. O resultado está abaixo.

No final ele fez questão de acrescentar outro tema: Ilusão.

Esta é a sinfonia da vida, por Marco Padilha, de Campinas.

AMOR – Sonho de Amor – Noturno número 3, de Liszt.

MORTE – Sinfonia das Canções Tristes – Henryk Mikołaj Górecki (o compositor polonês baseou-se na Paixão de Cristo, canções folclóricas e em oração escrita por Helena Wanda Blazusiakowna, polaca de dezoito anos, em 1944, nas paredes de uma prisão da Gestapo, em Zakopane, um dia antes de ser executada).

VIDA – Sinfonia número 3, de Beethoven, conhecida como A Heróica.

ESPERANÇA – Primavera, uma das Quatro Estações, de Vivaldi.

DESESPERO – Noturno Opus 40, de Chopin. (“Momentos angustiantes”, diz Padilha).

ILUSÃO – Carmen, de Bizet (“O protagonista Don José passa a ópera perseguindo a ilusão de um amor e no fim mata esse amor”)

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