domingo, 12 de setembro de 2010

Wenceslau Braz, de Monte Santo para o fogo da Primeira Guerra Mundial

"Senhores Membros do Congresso Nacional. Cumpro o penoso dever de comunicar ao Congresso Nacional que, por telegramas de Londres e Madri, o Governo acaba de saber que foi torpedeado, por um submarino alemão, o navio brasileiro Macau e que está preso o seu comandante. A circunstância de ser este o quarto navio nosso posto a pique por forças navais alemãs é por si mesma grave, mas esta gravidade sobe de ponto com a prisão do comandante brasileiro. Não há como, Senhores Membros do Congresso Nacional, iludir ou deixar de constatar, já agora, o estado de guerra que nos é imposto pela Alemanha".
Com estas palavras, o presidente da República, Wenceslau Braz, comunicava oficialmente ao país a 26 de outubro de 1917 que o Brasil estava, sim, em guerra contra a Alemanha, como parte do conflito que já se arrastava desde 1914 especialmente no teatro europeu. Ao lado de Wenceslau Braz estavam o ministro das Relações Exteriores, Nilo Peçanha, e o presidente (atual governador) de Minas Gerais, Delfim Moreira, conforme mostrou uma foto histórica, de autor desconhecido, que integra o Arquivo Plínio Doyle, e foi reproduzida em "Wenceslau Braz, 9 presidente do Brasil", da Série Os Presidentes, de Hélio Silva.
Foi uma das decisões mais graves tomadas por Wenceslau Braz em seu período na presidência, entre 15 de novembro de 1914 e 15 de novembro de 1918. Uma posição sem dúvida inimaginável, em 1895, quando Braz assumiu o posto de agente executivo, correspondente ao do atual promotor público, em Monte Santo de Minas.
Nascido em São Caetano da Vargem Grande (atual Brasópolis), em Minas Gerais, no seio de uma família de políticos, em 26 de fevereiro de 1868, formou-se em Direito em São Paulo em 1890. Começou sua carreira profissional no interior de Minas, sendo agente executivo em Monte Santo em 1895 e 1898. Um período turbulento, no qual a cidade assiste ao lançamento do primeiro jornal, "O Correio de Monte Santo", e ao aparecimento do lampião, ambos em 1894, mas ao mesmo tempo é palco de uma grave epidemia de cólera, no ano seguinte. Em 1892 Monte Santo tinha sido elevada a cidade.
Wenceslau Braz foi ainda presidente da Câmara Municipal de Jacuí, antes de iniciar uma rápida carreira na política partidária, sendo deputado estadual e federal, além de titular de várias secretarias do governo mineiro, até assumir a presidência (atual governo) do Estado, em 1909.
Ficou por pouco tempo no governo, pois a 1 de março de 1910 já era eleito vice-presidente da República, superando Albuquerque Lins, da Campanha Civilista. Naquela época o candidato a vice-presidente também participava de eleições diretas. Foi eleito vice de Hermes da Fonseca, que governou de 1910 a 1914.
Com uma sonora vitória contra Rui Barbosa, por 532.107 votos a 47.782, Wenceslau Braz foi eleito presidente a 1 de março de 1914, assumindo o cargo a 15 de novembro desse ano, permanecendo até 15 de novembro de 1918. Período muito conturbado na vida nacional e internacional, e não apenas pela eclosão da Primeira Guerra Mundial.
Já pegou a Guerra do Contestado em curso, em 1915 explodiu a Revolta dos Sargentos, e em 1917 foi a vez da greve geral e também da Gripe Espanhola, que deixou milhares de vítimas por todo Brasil. A greve geral teve grande influência dos anarquistas, mas os ventos comunistas já se faziam sentir. Naquele ano era vitoriosa a revolução bolchevique na Rússia, dando origem, depois, à União Soviética. Um episódio curioso envolveu a participação brasileira na Primeira Guerra, no governo Wenceslau Braz. O Cruzador Bahia, que integrava uma frota de navios brasileiros, atacou por confusão um bando de toninhas, em novembro de 1918, na altura do Estreito de Gibraltar, na Europa. Ficou na história como a Batalha das Toninhas, uma simpática espécie de cetáceos.
Deixando a presidência, Wenceslau Braz se envolveu exclusivamente na Companhia Industrial Sul-Mineira, que havia fundado em Itajubá, onde faleceu, em 15 de maio de 1966. Tinha 98 anos. Uma longa e intensa vida pública, com importante passagem na região de Monte Santo de Minas. (JPMartins)

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