mesa redonda, conceituando a sustentabilidade e seus desafios
Jornalistas, no Simpósio das Bacias Hidrográficas
(Fotos Antonio Pereira)
o caráter subversivo do ambientalismo, disse André Trigueiro
em debate no Simpósio de Atibaia, bacia do Rio Piracicaba
O jornalista que trabalha com sustentabilidade deve incomodar os interesses políticos e empresariais. Isso porque o jornalista que atua na área é um herdeiro do caráter transgressor, subversivo, dos movimentos ambientalistas que emergiram nas décadas de 1970 e 1980.
Esta foi uma das afirmações do jornalista da Globo News, André Trigueiro, no I Encontro de Jornalistas, nesta quarta-feira, 24 de novembro, em Atibaia. O Encontro fez parte do II Simpósio Experiências em Gestão de Recursos Hídricos por Bacias Hidrográficas, realização do Consórcio Intermunicipal das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí.
Referência no jornalismo ambiental na TV brasileira, André Trigueiro advertiu para a necessidade do jornalista esquadrinhar, decifrar, o sentido da sustentabilidade. E defendeu uma nova educação, pois a educação tradicional "esquartejou o conhecimento". O jornalista ambiental deve, então, procurar uma visão mais ampla da realidade. A chamada "pegada ecológica" da cadeia produtiva animal, sobretudo na pecuária; a perda da mobilidade no trânsito, derivada do excesso de veículos nas ruas; e a certificação ambiental - temas que, para Trigueiro, podem dar ótimas pautas na área socioambiental atualmente.
O I Encontro de Jornalistas teve a mediação de Rui Gonçalves, repórter da Globo News. Ele fez uma conceituação de sustentabilidade, comentou os programas sobre o tema já existentes na TV brasileira (como o pioneiro Repórter Eco, na TV Cultura, e o Cidades e Soluções, da Globo News, apresentado pelo próprio André Trigueiro) e salientou que o mundo empresarial já está assimilando as demandas e desafios da sustentabilidade. Muito ainda a fazer, mas iniciativas interessantes já acontecendo.
O jornalista José Pedro Martins também participou da mesa-redonda. Disse não acreditar em jornalismo que não seja transformador, que não mude cultura, o estilo de vida das pessoas. Lembrou que a campanha pela abolição da escravatura foi a primeira batalha de opinião pública na imprensa brasileira, no século 19. No século 20, outro momento importante, com a luta da imprensa contra a censura na ditadura. A mídia se abriu cada vez mais para o meio ambiente, após a Eco-92. E no cenário atual, quase segunda década do século 21, entende que o jornalismo ambiental deve ser ainda mais ousado, denunciando mas também indicando caminhos, dando esperança para as pessoas.
Martins comentou, especificamente, a experiência do jornalismo ambiental na região de Campinas e Piracicaba, na bacia do rio Piracicaba. A imprensa soubre compreender a luta da região em defesa dos rios, a importância da proteção das águas. E lamentou a falta de disposição política para a resolução do drama do Sistema Cantareira, que há mais de 30 anos retira água da bacia do Piracicaba, para abastecer metade da Grande São Paulo. O Brasil precisa de energia nuclear?, perguntou o jornalista, citando o projeto do governo federal de construir quatro usinas nucleares no Nordeste.
O I Encontro de Jornalistas do Simpósio também teve a participação de Newton de Lima Azevedo Jr, vice-presidente da Foz do Brasil, empresa do grupo Odebrecht. Ele comentou a enorme lacuna ainda existente no saneamento básico no país, e defendeu as parcerias público-privadas como caminho para resolver o déficit. Nenhum setor, sozinho, conseguirá responder aos desafios do saneamento no Brasil, disse, lembrando que o país investe menos de 1% do PIB em saneamento.