(INFLUÊNCIA HISTÓRICA DA EUROPA EM CAMPINAS E REGIÃO)
Nice, terra de Hércules Florence, que teria inventado a fotografia em Campinas
(Foto José Pedro S.Martins)
A VISÃO DE CAMPINAS, PELO VIAJANTE FRANCÊS
“O tempo estava magnífico, e jamais o azul do céu se mostrara tão luminoso. O verde das árvores, mais viçoso talvez do que o de nossos bosques na primavera, propiciava um delicioso descanso à vista, e as flores das laranjeiras que rodeavam o posto de pedágio embalsamavam o ar com o seu perfume”.
Foi esta a visão, de um lugar repleto de vida (mas já com a presença da burocracia, voilà!), que Auguste de Saint-Hilaire teve de Campinas, quando passou por essa cidade - então, Vila de São Carlos - em 1819. Os sentidos do cientista ficaram entorpecidos, deliciados com as cores, os cheiros, daquela terra então coberta com o grande veludo verde da Mata Atlântica - o "Mato Grosso" presente no primeiro nome de Campinas.
A visita de Saint-Hilaire, que viajou por vários pontos do Brasil e que escreveu uma obra fundamental para a botânica com base nesse roteiro, foi um prenúncio da influência francesa do lado de cá do Atlântico, em especial naquele embrião de núcleo urbano que agora é sede de uma região metropolitana no interior de São Paulo - onde sobrou quase nada do verde que Saint-Hilaire celebrou em “Viagem à Província de São Paulo” (Editora Itatiaia, BH, Ed.da USP, São Paulo, 1976). A forma como o Brasil se vê, a forma como Campinas se vê, são muito tributárias do olhar francês, da lente francesa.
Não é por acaso, portanto, que a fotografia, segundo muitos estudiosos, tenha sido inventada, em Campinas, por um francês de Nice, Hércules Florence, em 1832. Seja pela fotografia, seja pelos quadros de Debret e Taunay, boa parcela do olhar que o brasileiro passou a ter sobre si mesmo teve como prisma a intermediação francesa, que assim contribuiu para a formação da identidade nacional.
A Campinas, o Brasil urbano de 2010 não são os mesmos do tapete verde testemunhado por Saint Hilaire há 190 anos. Mas as marcas francesas estão por aqui, basta o olhar atento para ver. (JPMartins)