quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Aziz Ab´Saber, a voz da indignação, tem relação histórica com região e faz alerta sobre Campinas

São Luis do Paraitinga, terra de Aziz Ab´Saber, antes das enchentes devastadoras do início de 2010: cidade que se reconstroi demonstra a força que o geógrafo tem na defesa do Brasil (Foto Adriano Rosa)





O crescimento urbano descontrolado de Campinas pode acabar afetando áreas, como nos distritos de Sousas e Joaquim Egídio, onde estão amostras de vegetação e solo de um passado muito longínquo, e que por sua importância histórica e científica deveriam ser preservadas, inclusive como objeto de uma educação ampla e multidisciplinar. O apelo foi feito em uma fria noite de junho de 2005, no encerramento do Encontro Regional de Meio Ambiente, no SESC, pelo geógrafo Aziz Ab’Saber, um dos maiores nomes da ciência e da cidadania ativa no Brasil. Pois as advertências do geógrafo continuam muito válidas, tanto para aquela região de Campinas, como para todo o conjunto das bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, com quem Ab´Saber mantém uma relação histórica. O Encontro Regional de Meio Ambiente, do SESC Campinas, foi retomado agora com um novo formato e nome, o "Fala mais sobre isso", com eventos toda primeira quinta-feira de cada mês, a partir das 14 horas, sempre com importantes referências em sustentabilidade.
Aquela noite estava fria, mas a aula plural de Ab’Saber, aliada a seu imenso amor pelo país, tornaram bem quente o ambiente do Encontro Regional. O geógrafo conhece a fundo o processo de evolução desordenada do tecido urbano de Campinas e de toda a região. O geógrafo nascido na bela São Luis do Paraitinga, em 1924, começou sua brilhante carreira acadêmica aqui mesmo, dando aulas entre 1952 e 58 nas Faculdades Campineiras, embrião da futura Universidade Católica.
As incursões pelo território campineiro ajudaram e muito na formulação da Teoria dos Redutos, uma das inúmeras contribuições de Ab’Saber à Ciência. Ele se maravilha em especial com as formações rochosas encontradas no distrito de Joaquim Egídio, fruto de movimentações no solo ocorrida há milhões de anos. Alterações climáticas profundas, também em tempos imemoriais, levaram por sua vez a modificações radicais na composição vegetal do território de Joaquim Egídio e em toda região.
Mas parte desse passado remoto ainda resiste no distrito, na forma por exemplo da vegetação rupestre de lajedos rochosos, identificada há poucos anos pelo esforço da agrônoma e doutora em botânica Dionete Santin – que apresentou os resultados de seu trabalho no mesmo Encontro do SESC.
Preservar essas relíquias remanescentes no Município é um dos grandes motivos para se frear a dilatação inconseqüente da área urbana, destacou o professor Ab’Saber. Ele também pediu atenção para o perfil do metabolismo urbano de Campinas, na sua opinião indicativo da degradação dos recursos naturais e da qualidade de vida na cidade.
Mas o professor Ab’Saber mostrou enorme preocupação com outro patrimônio, de todos brasileiros, que é a Amazônia. A escalada da destruição na floresta amazônica quase não tem precedentes na história mundial, avisou o geógrafo. Ab’Saber demonstrou sua clara insatisfação com a recente declaração do então presidente Lula, para quem a Amazônia não poderia ser mais considerada “intocável”. Para o geógrafo, ex-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e companheiro de Lula na campanha pelas diretas-já de 1984 e nas posteriores Caravanas da Cidadania, afirmações como essa do ex-presidente poderiam pôr ainda mais em risco a integridade da floresta.
Ab’Saber reiterou sua tese de que a Amazônia, como todo Brasil, não cabem em um único projeto, em função da diversidade de ecossistemas e de realidades sociais, culturais e étnicas, tanto na floresta como em todo território nacional. “Não dá para falar em um projeto sem conhecer a realidade, e isso apenas como resultado de um esforço multidisciplinar, integrando profissionais e estudantes de distintas áreas”, sublinhou o mestre Ab’Saber, que ao final de sua exposição foi aplaudido de pé e homenageado por estudantes da PUC-Campinas.
Dom Quixote dos áridos tempos atuais, Aziz Ab’Saber dedicou-se ultimamente a outra causa nobre: montar bibliotecas em bairros de baixíssima renda. Ele não desiste de acreditar no Brasil, apesar dos pontuais desencantos e de sua santa indignação. (Por José Pedro S.Martins)

Um comentário:

  1. Caro José Pedro, concordo em número e grau e sinto que a falta de políticas públicas voltadas principalmente para a APA me assusta pois somente pensam em aprovar empreendimentos não focando na paisagem completamente desprotegida. Mas estamos na luta!!! um grande abraço e parabéns pelo blog.

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