Escola Estadual Minas Gerais, Grupo no meu tempo. Lugar de sonhos.
Doçura. Não encontro outra palavra para resumir o que sinto por minhas professorinhas mineiras, aquelas que primeiro encontrei em Itamogi. A descoberta do mundo, a superação das fronteiras de nossa casa, o primeiro diálogo com o outro, o desconhecido que encanta e pode assustar. Essa é a história de nosso contato com a nossa primeira escola, ou pelo menos foi assim para mim, na pequena cidade do Sudoeste de Minas, década de 1960. A todas elas, onde estiverem, felicíssimo 15 de outubro, Dia do Professor!
Primeiro foi a dona Lurdinha Cardoso, no pré-primário, em uma casa antiga que ela transformou em castelo de sonhos. Os primeiros amiguinhos, o soninho depois do almoço, os contatos inaugurais com as letras, os números. A chave para o desenvolvimento integral.
Depois de quatro décadas, só agora vejo que a educação básica, antes chamada de pré ou de jardim da infância, vem recebendo devida atenção dos poderes públicos. Mas quanto tempo perdido! O Brasil seria outro hoje se nessas quatro décadas a educação infantil tivesse tido outro tratamento.
Mas vejo com esperança hoje ensaios importantes, como o que vem sendo feito em Campinas, com o projeto Nave Mãe e a Pedagogia dos Sentidos, liderado pelo prefeito dr.Hélio de Oliveira Santos. Essa nova Pedagogia estimula os sentidos como primeiro portal do conhecimento. E a Nave Mãe é o espaço onde a Pedagogia dos Sentidos é aplicada, e onde os pequenos podem ter contato perene com as mães, que participam de cursos ali oferecidos. O contato com a mãe, com a família, fundamental no processo educativo.
Grupo Minas Gerais - Depois do pré-primário, o Grupo Escolar Minas Gerais, atual Escola Estadual Itamogi. E a dona Laís do Nascimento, a primeira professorinha, quando a alfabetização chegava com as suas infinitas possibilidades. O Grupo Minas Gerais era outro lugar mágico - fantasia que se completava com a praça em frente, naquela época vazia, onde simplesmente eram montados os circos que se apresentavam em Itamogi! O que é mais prazeroso do que frequentar um grupo escolar no interior de Minas na década de 1960? É frequentar um grupo em frente à praça onde está o circo!
Assim era o Minas Gerais naqueles anos. A deliciosa aveia servida de lanche, as quadrilhas nas Festas Juninas, o Hino Nacional cantado com vigor e paixão no pátio, os bailes de vez em quando aos sábados à noite. Os primeiros bailes!
A Dona Nabirra Elias, a Dona Gelcira, a Dona Arísia, a Dona Yolanda, e as minhas tias Aparecida e Lourdes que me deram aulas, com muito orgulho! E a mamãe Maria das Dores, a Dora para todos, professora substituta naquela época, de vez em quando me dando aulas, também. Como esquecer!
Os dedos com o branco-pureza do giz, a dificuldade enorme (pela timidez insuperável) em ir no quadro negro ou declamar uma poesia lá na frente de todos, a maravilha de tirar dez em todas as disciplinas em um determinado mês, junto com o meu colega de carteira, o Leonardo. Lembranças impagáveis, imagens de encantamento e de agradecimento pelo que as professorinhas fizeram.
Ginásio ainda em Itamogi - Depois, o Ginásio, dirigido pelo Francisco Guerra, sempre impecável, sempre um gentlemen. E o Tista (desculpe chamá-lo assim, João Batista, durante muito tempo um brilhante secretário municipal de Educação) Guerra e suas reveladoras aulas de Matemática (na prática, descobrimos que não era tão difícil assim), a sua irmã Lurdes e suas deliciosas aulas de Geografia, e a Dona Nabirra ensinando como ler um livro, e o padre Nelson com seu ensino religioso muito crítico já naquela época, e a Dorotéia nos introduzindo no mundo do inglês, e o Airton com suas aulas de educação física (como eu sofria fazendo ginástica!). E tantos outros.
E os colegas, João Marques, o Daniel, o Melchiades Cardeal, e claro o Leonardo Lima, e minhas primas Cidinha e Beti, e a Ilza, Darci, Solange e tantas outras. A vida correndo deliciosa, o Ginásio também ao lado de uma praça de sonhos, onde em janeiro a Festa de São Sebastião era uma das delícias mais esperadas. E melhor ainda: o Ginásio perto do campo de futebol, a primeira imersão no futebol que é mais do que esporte para nós brasileiros. O Ginásio, um passo à frente, novos professores de enorme dedicação.
Colegial em Monte Santo - Depois, a primeira saída de Itamogi, o colegial no Américo de Paiva, em Monte Santo de Minas. Meados da década de 1970, outro momento do país e de nossa vida. A descoberta do rock (e até do surf!, nós que não temos praia e eu que nunca soube nadar), as fugas do colégio para jogar pebolim ou simplesmente ler Khalil Gibran em uma praça ali perto.
E os novos amigos de Monte Santo, o Dado, o Mário Antonio, o Alan, o Charles, a Bianca e tantas outras. E, claro, os professores maravilhosos de Monte Santo. O Ademar, o Romeu, tantos que eu já esqueci o nome (que absurdo!). O Jairo Palaccini, outro gentlemen, como diretor.
O colegial, momento de definição, ou de aumentar ainda mais a indefinição, sobre que rumos tomar. Para mim foi fácil, o jornalismo já vinha de me chamando, eu que adorava os livros, que meus professores e professoras me ajudaram a amar ainda mais. Que plataforma eu e minha turma tivemos, que preparação para a vida.
E hoje? - A escola pública brasileira foi vítima de um dos maiores crimes cometidos nas últimas décadas no nosso país. O crime do descaso, da culpabilização, e sobretudo do desrespeito cada vez maior da sociedade com os professores, com essas queridas professorinhas que nós tivemos. O outro crime absurdo, acabar com as ferrovias - que agora estão tentando retomar, mas como demorou!
Agora dizem que a escola pública é isso e aquilo. Nos últimos anos, em função de meu trabalho, venho tendo a oportunidade de conhecer muitas escolas públicas, em vários pontos do Brasil e na Argentina. Sim, as escolas públicas passam por uma grande crise, mas qual escola não passa? A escola como ainda está estruturada hoje não responde a todos imensos desafios da sociedade cada vez mais complexa que vivemos. Uma sociedade que é global e local ao mesmo tempo. São infinitas fontes de informação a que temos acesso, desde o momento em que acordamos. Como a escola vai responder a isso?
Pois garanto que muitas já estão respondendo, e como fruto geralmente daquela professora ou daquele professor mais apaixonado, abnegado - eles continuam existindo, graças a Deus. Conheci professores no interior de Pernambuco que começaram a carreira ensinando os próprios irmãos a escrever na parede, conheci professoras em Contagem, perto de Belo Horizonte, promovendo o resgate da identidade cultural de nosso povo mestiço com muita dignidade, conheci uma escola na periferia mais vulnerável socialmente de Campinas que simplesmente sonhou e conseguiu ter uma lousa digital - todos nós temos direito ao mundo tecnológico de hoje, não? E o mesmo na Argentina - em pleno deserto, conheci uma escola que tinha cinco, isso mesmo, cinco alunos, e todos estavam me esperando com um beijo na porta, os olhos brilhantes de esperança.
Enfim, muita gente fazendo muito esforço, muita coisa bonita com os recursos que têm à disposição. Mas todos sonhando e acreditando no sonho da educação. A educação que liberta, transforma e humaniza. A educação que nos torna absolutamente felizes. (Por José Pedro S.Martins)
Nenhum comentário:
Postar um comentário