Algumas histórias de Zaiman, reunidas em "Campinas, meu amor": tributo à cidade
Um amor imenso, pelas ruas e sua literatura, pelas praças e sua poesia, pelo
povo e sua vibração, pela Ponte Preta, a maior paixão. Não é outro o sentimento
de Zaiman de Brito em relação a Campinas, desde que aqui chegou, com a mãe, já
viúva, a querida Dona Zaíra, e dois irmãos. O fluminense de Macaé se tornou
campineiro até os ossos, e um de seus maiores cronistas, com histórias contadas
em jornal, rádio, televisão e, agora, internet.
Muitas dessas histórias estão contadas em “Campinas, meu amor – A cidade
pelos olhos de Zaiman de Brito Franco”, livro escrito em parceria minha com
Helton Pimenta. Livro produzido a partir dos causos que Zaiman contava para
Helton na rádio e, depois, televisão. Foi um desafio enorme manter o frescor,
tentar reproduzir a magia com que Zaiman faz os seus relatos sobre os bons
tempos do restaurante Armorial, do bar Ideal, da boate em frente à Igreja do
Carmo.
Histórias povoadas de gente, de gente de verdade, com suas dores, alegrias e
esperanças. A renda do livro foi destinada ao Centro Boldrini e ao Centro
Corsini, dois exemplos da vocação solidária de Campinas. Abaixo, algumas
histórias, pequena amostra do que Zaiman contou e, principalmente, viveu:
O editor pianista – Uma das figuras mais incríveis da boate
El Cairo era o pianista, Cataldo Bove. Foi talvez o único pianista e ao mesmo
tempo jornalista da história. Ao mesmo tempo não é figura de linguagem. Cataldo
editava o jornal, que ficava na esquina das ruas Barão de Jaguara e General
Osório e, quando tinha um tempo, corria até a boate para tocar As time goes by
ou outra do gosto do público. Tocava e, quando chegava um telegrama urgente, com
matéria a ser publicada na edição do dia, corria para o jornal. Às vezes alguém
do jornal ligava, pedindo orientação sobre o que fazer com uma matéria que
havia ´estourado´, ou seja, era maior do que o espaço previsto para ela na
página. ´Corta o pé´, respondia o jornalista do piano.
Bares coladinhos – No Bar Leblon, na área do Largo do Carmo
depois conhecida como Praça do Chope, políticos foram servidos várias vezes por
um garçom charmoso, boa conversa, que depois virou líder metalúrgico e vereador.
Era Cid Ferreira. Ficava ao lado do Bar do Arlindo, o Ponto Chique: se um estava
cheio, era só pular para o outro e vice-versa.
Reação – Vila Belmiro. Santos 10 x Guarani 0. Falta apenas
um minuto pro jogo terminar quando Augusto, centroavante bugrino, faz o gol do
Guarani. Na cabine o saudoso Mário Mellilo, que transmitia a partida, após
narrar o gol, renovou as esperanças: “Começa a reação do Guarani…”
Bem caro – Na Copa de 58 não tinha TV. Garoto, Zaiman
acompanhou tudo no Largo do Rosário, onde a PRC-9 instalou um balão, que atraiu
todas atenções da cidade. O Biné era dono do Giovanetti, o primeiro, em pleno
Largo. Terminado o jogo final da Copa, pela primeira vez o Brasil campeão do
mundo, o Biné resolveu pagar para chope para todo mundo. Mas pediu para ninguém
tomar até ele fazer um brinde. Tinha umas 100 pessoaas no bar e na calçada. Biné
levantou o copo para brindar. Mas o copo escapou e foi ao teto. Todo mundo
pensou que era para fazer o mesmo e atirou copos com chope e tudo. Biné tomou na
cabeça. Foi o chope mais caro da história.
Templo do futebol – Criança, acompanhando a construção do
estádio da Ponte Preta, Zaiman ouviu de alguém que aquele seria um “templo do
futebol”. À noite, tomando sopa, perguntou para a mãe: “Mãe, o que é templo?” E
Dona Zaíra, rápida: “Templo, meu filho, é uma igreja”. O moleque foi dormir
pensando, muito preocupado: “Será que a Ponte vai virar uma Igreja?”
Poeminha de Zaiman - “Eu quero um terraço,/ de preferência
com goteira./ Onde chova você/ a noite inteira”.
Histórias sobre Campinas, região metropolitana e bacia do rio Piracicaba. O povo da região, a cultura, o meio ambiente, ideias sobre o hoje e os desejos para o amanhã. E as impressões de viagem de um jornalista mineiro vivendo em Campinas e região há 30 anos. Claro, saudoso, também escreve sobre a região de onde veio - Itamogi, Monte Santo de Minas, São Sebastião do Paraíso, Santo Antonio da Alegria, Altinópolis, Batatais...
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Conheci Zaiman nos idos de 58, 59...Vinha de São Paulo participar de noitadas com muita poesia e muita cerveja, antes das serenatas para as meninas de um colégio de freiras alí no centro de Campinas. Com ele aprendi a amar e viver nossa poesia. Jamais esqueço sua entonação de Castro Alves..."És rainha? Sou poeta, teu orgulho não me afeta porque tenho coração. Não troco uma estrofe minha por seu colar de rainha, ou por troféu de latão!"
ResponderExcluirGrande Zaiman! nunca mais o encontrei, penso que nem se lembrará mais desses eventos...Mas posso dizer, Zaiman me fez uma pessoa melhor...
No último comentário que fiz, devido a um vício de redação, tem-se a impressão de que o trecho citado entre aspas é de Castro Alves. Não foi isso que quis dizer. Lembrava-me da entonação brilhante que Zaiman imprimia às poesias de Antonio de Castro Alves, é verdade, mas o trecho entre aspas é de autoria de Trasíbulo Ferraz Moreira. É uma parte da poesia "Orgulhosa", recitada de improviso ao final de um baile.
ResponderExcluirZaiman de Brito continua em Campinas, mora muito próximo do Centro de Convivência no Cambuí, e costuma almoçar no restaurante Caçarola. Está absolutamente bem, com suas histórias a contar, sempre tranquilo e bem humorado, grande amigo e, pode-se dizer: ele é a história viva de Campinas.
ResponderExcluirOnde comprar esse livro????
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