Histórias sobre Campinas, região metropolitana e bacia do rio Piracicaba. O povo da região, a cultura, o meio ambiente, ideias sobre o hoje e os desejos para o amanhã. E as impressões de viagem de um jornalista mineiro vivendo em Campinas e região há 30 anos. Claro, saudoso, também escreve sobre a região de onde veio - Itamogi, Monte Santo de Minas, São Sebastião do Paraíso, Santo Antonio da Alegria, Altinópolis, Batatais...
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segunda-feira, 10 de dezembro de 2012
“Juscelininho”, o apelido carinhoso de Niemeyer para o prefeito Toninho, que sonhava com um teatro de ópera no centro de Campinas
Para marcar mais um aniversário de Campinas, a 14 de julho de 2002, o jornal “Correio Popular” publicou um caderno sobre o patrimônio histórico da cidade. Eu não estava mais no jornal, mas escrevi uma matéria especial sobre o convite que o ex-prefeito Antonio da Costa Santos, o Toninho, havia feito para Oscar Niemeyer desenhar o projeto de um teatro para Campinas. Era um dos sonhos mais acalentados por Toninho, assassinado a 10 de setembro de 2001. Naquele que foi o primeiro aniversário de Campinas após essa tragédia, o artigo revelou o apelido carinhoso que Niemeyer deu para Toninho, “Juscelininho”. Abaixo, a reprodução do texto da matéria de dez anos atrás mas com tema tão atual, pois ainda não há perspectiva concreta de construção do teatro:
“Juscelininho” queria um teatro novo. O mago Niemeyer tirou o projeto da cartola
“Calma Juscelininho!” O arquiteto Oscar Niemyer gostava de comparar o seu companheiro de profissão, Antonio da Costa Santos, com o presidente Juscelino Kubitschek, que se projetou na história nacional como o símbolo do período em que o Brasil queria crescer “50 anos em 5″. JK, que governou o país entre 1956 e 1960, tinha pressa, e de seu delírio desenvolvimentista resultou uma das maiores obras da história da arquitetura, a cidade de Brasília, idealizada nas pranchetas mágicas de Lúcio Costa e do próprio Niemeyer.
Pois foi a Niemeyer que o prefeito Antonio da Costa Santos recorreu, para conceber o projeto de um teatro de ópera para o centro histórico de Campinas. A construção de um teatro de grandes dimensões – com capacidade para 1.400 pessoas – para apresentações de peças, shows e outras atividades culturais era um ingrediente estratégico no plano que Toninho havia idealizado para a revitalização do centro da cidade.
Como observa a esposa, Roseana Moraes Garcia, Toninho era um dos campineiros mais inconformados com a perda de dois ítens do patrimônio histórico local, o Teatro São Carlos, derrubado em 1922, e o seu sucessor, o Teatro Municipal, demolido em 1965. O Teatro Municipal havia sido construído em um espaço muito próximo de onde o Teatro São Carlos ficou instalado por por cerca de sete décadas, atrás da Catedral, na atual praça Rui Barbosa.
A edificação de um novo teatro no mesmo local seria praticamente impossível, em função da atual configuração urbanística da área central. Toninho discutiu pessoalmente o assunto em duas oportunidades com Niemeyer.
O prefeito não chegou a ver o projeto pronto. Niemeyer apresentou uma solução após discussões com Marco do Valle, membro da equipe de confiança formada por Toninho para “pensar a cidade”, como gostava de afirmar. A solução encontrada, para a localização do novo teatro de Campinas, foi utilizar a área empregada como terminal rodoviário urbano, entre a avenida Moraes Salles, o Palácio dos Azulejos e as ruas Regente Feijó e José Paulino.
Esta não era a intenção original de Toninho, que pretendia construir um museu multimídia no espaço onde está o terminal de ônibus. O museu também abrigaria os estúdios da rádio e TV municipal. Este foi o único local, entretanto, que acabou viabilizando o projeto de Niemeyer.
Como parte essencial do plano global para o Centro, o projeto arquitetônico do novo teatro municipal foi encomendado diretamente pelo prefeito ao mago Niemeyer. O renomado idealizador dos principais edifícios da capital federal, do complexo da Pampulha em Belo Horizonte e de outras obras fundamentais da arquitetura brasileira teria uma reunião com Toninho no dia 13 de setembro do ano passado, quinta-feira - e não sábado, dia 15, como chegou a ser divulgado. A reunião com Niemeyer, que viria a Campinas nesse dia, havia sido acertada na manhã de 10 de setembro. “Ele estava muito entusiasmado com a visita”, lembra Marco do Valle.
A reunião acabou não acontecendo. Toninho foi morto na noite daquele 10 de setembro – data em que, há 71 anos, era inaugurado o Teatro Municipal de Campinas, sucessor do Teatro São Carlos. Niemeyer ficou muito abalado com o assassinato, mas deu continuidade ao projeto, apresentado em linhas gerais para Roseana, Marco do Valle e outros profissionais. Professor no Instituto de Artes e Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Unicamp, Marco do Valle era a pessoa certa para o contato com Niemeyer. Sua tese de doutorado na USP foi sobre a trajetória do arquiteto: “Desenvolvimento da forma e procedimento de projetos na obra de Oscar Niemeyer: 1935-1998″.
Na tese, Valle mostra como Niemeyer desenvolveu um repertório de formas que acabou utilizando, com releituras e variações, ao longo de sua obra. “O Oscar tem um estilo único de acomodar as construções no terreno, como se elas estivessem pousadas sobre o solo”, observa Marco do Valle.
O professor da Unicamp observa ainda em sua pesquisa como Niemeyer, em sua opinião, desenvolveu um estilo influenciado pela forma de calcular principalmente de dois engenheiros, Emilio Baumgartem e Joaquim Cardoso. Com base nos estudos de cálculo de Baumgartem ele desenvolveu o projeto do Estádio Nacional, que acabou não sendo construído e que seria erguido onde está o Maracanã, no Rio de Janeiro.
Características do projeto estão presentes no Memorial da América Latina, em São Paulo. Sob influência dos cálculos aprimorados por Cardoso, o genial arquiteto concebeu obras como a Igreja de São Francisco de Assis, na Pampulha, com suas incríveis parábolas.
Como mostra a maquete que repousa sobre uma mesa no escritório do arquiteto, em Copacabana, no Rio de Janeiro, o projeto do teatro de Campinas tem algumas dessas marcas pessoais de Niemeyer, um artista sempre polêmico e provocador. As formas ondulantes que o consagraram estão lá, prontas para duelar com retas sóbrias e e repetitivas dos prédios construídos na segunda metade do século 20 no centro da cidade. O projeto exibe uma forma piramidal, mas com lados em curva. O estacionamento seria subterrâneo. Um elevador levaria os visitantes até um foyer que daria acesso ao teatro e a uma galeria para múltiplas exposições.
Não deixou de ser um desafio para Niemeyer idealizar um teatro para um espaço relativamente pequeno como o do antigo terminal de ônibus urbano. Normalmente o arquiteto trabalha com espaços maiores, que permitem maiores alternativas de composição. Mas ele acabou sucumbindo à insistência de “Juscelininho” campineiro, que também parecia ter pressa, como o presidente bossa nova.
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