Por José Pedro Martins
Neste domingo, primeiro dia de 2012, José Graziano da Silva tomou posse como novo diretor-geral da FAO, o órgão das Nações Unidas para alimentação e agricultura. Chegou ao cargo depois de oito anos como subdiretor-geral e representante da FAO na América Latina e Caribe. Terá como principal desafio, nos quatro anos de mandato, conduzir programas para garantir a segurança alimentar e combater a fome em um mundo que tem 1 bilhão de famintos. Como uma das credenciais para responder ao desafio, o fato de ter sido o coordenador dos estudos de implantação e o primeiro condutor do Programa Fome Zero, como Ministro Extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome.
Até 2010 Graziano da Silva foi professor na Unicamp, onde deu aulas desde 1978 e coordenou o Programa de Mestrado e Doutorado em Desenvolvimento Econômico, Espaço e Meio Ambiente do Instituto de Economia. Ainda em Campinas, foi diretor-executivo da Associação Brasileira de Reforma Agrária (ABRA), no período em que a entidade teve sede na cidade. A reforma agrária sempre foi um de seus temas de estudo, desde a publicação, em 1971, do artigo "A Transamazônica e sua Colonização", escrito em parceria com dois alunos da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) e inserido no Boletim Reforma Agrária.
Tomara que a chegada de Graziano da Silva à diretoria-geral da FAO seja um sinal positivo do resgate de Campinas como cidade que historicamente está na vanguarda de muitas questões sociais importantes para o Brasil e o mundo. São vários os casos de pessoas que passaram ou ainda atuam em Universidades locais e que chegaram a assumir tarefas de grande responsabilidade em questões sociais. Vamos citar somente os exemplos dos economistas e professores da Unicamp Luiz Gonzaga Belluzzo e Márcio Pochmann (atual presidente do IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada) e da arquiteta Raquel Rolnik, professora da PUC-Campinas e USP e atual relatora especial do Conselho de Direitos Humanos da ONU para o direito à moradia adequada.
Campinas igualmente é o local onde prosperaram iniciativas sociais de alta relevância histórica, como a Fundação FEAC (de 1964) e a Assembleia do Povo, uma das principais ações de cidadania no Brasil no período final da ditadura militar. E foi em Campinas, durante o segundo governo de José Roberto Magalhães Teixeira, que foi implantada importante experiência do bolsa-escola, embrião do atual Bolsa Família e que também foi muito discutida desde 1986, sob a liderança de Cristóvam Buarque, na Universidade de Brasília, tendo sido implantada na capital federal no mesmo ano que Campinas - 1995.
A questão é que há anos Campinas perdeu essa ousadia, essa vocação para ações sociais que quebram paradigmas. A cidade que vive um momento político tão conturbado precisa resgatar essa inclinação que faz parte de sua identidade histórica. A esperança é que a posse de José Graziano da Silva na diretoria-geral seja o indicador de novos tempos. O Brasil e sobretudo os moradores de Campinas esperam isso com alta ansiedade. Talvez seja o grande pedido para 2012.
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